São Francisco de Sales teve a inspiração de dedicar o Instituto que
havia fundado a Santíssima Virgem Maria no Mistério da Visitação. Escolheu-o
por ser um mistério oculto, em que encontrava muitas luzes para o espírito que
o devia animar.
Nossa amável e insuficientemente
amada Senhora e mestra, a gloriosa Virgem, enquanto deu seu consentimento as
palavras do arcanjo São Gabriel, o mistério da Encarnação se realizou nela. E
sabendo pelo mesmo São Gabriel que sua prima Isabel havia concebido um filho em
sua velhice, quis ir vê-la desejando servi-la e
ajuda-la, porque sabia que isto era da vontade de Deus; com prontidão
saiu de Nazaré, pequena cidade da Galileia para ir a Judeia a casa de Zacarias.
Empreendeu a viagem longa e difícil subindo a montanha da Judeia, um caminho
muito pesado para esta terna e delicada Virgem.
O que impulsionou particularmente
a nossa gloriosa Mestra a fazer esta visita foi sua ardente
caridade e sua profunda humildade;
sim, minhas queridas Irmãs, estas duas virtudes a fizeram deixar Nazaré,
por que a caridade não é ociosa, senão
que arde nos corações em que habita e reina, a Santíssima Virgem estava
plena dela, pois que levava o Amor mesmo em suas entranhas. Ela tinha contínuos
atos de amor, não somente com Deus com o qual estava unida pela mais perfeita
dileção, senão que tinha o amor do próximo em grande perfeição, que a fazia
desejar ardentemente a salvação das almas.
Nossa Senhora se alegra com sua
prima; elas são impulsionadas a glorificar a Deus que havia derramado tantas
graças: sobre ela, que era virgem, fazendo-a conceber o Filho de Deus por obra
do Espírito Santo, e sobre Santa Isabel que era estéril, concebendo
milagrosamente e por graça especial a aquele que devia ser o precursor do
Messias.
Com a caridade,
a Santíssima Virgem havia recebido uma profunda
humildade, como a manifesta a que responde ao louvor de Isabel: “Porque Deus olhou para a humildade de sua
serva, doravante as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1.48).
Ao dizer humilde ela não se
referia a virtude da humildade senão a própria condição que via em si mesma, ao
que era por natureza e do nada que havia saído. Nosso Senhor deu testemunho da
humildade de sua mãe, quando a louvando chama “mulher”, Ele manifesta que é
feliz porque o tem levado em seu ventre, porém, pela humildade com que ela diz
“sim” a vontade do Pai celestial e a ter cumprido.
O evangelista disse que a Virgem
se levantou apressada para mostrar sua prontidão
com a que se devem seguir as inspirações divinas; porque é próprio do Espírito
Santo, quando toca um coração, inquietá-lo; Ele ama a diligência
e a prontidão; é inimigo de prazos e
atrasos na execução do que é a vontade de Deus.
Minhas queridas Irmãs, como devem
estar cheias de alegria quando são visitadas por este Divino Salvador no
Santíssimo Sacramento do altar, e pelas graças interiores que diariamente
recebem de sua Divina Majestade, por tantas inspirações e palavras que Ele fala
a seus corações; porque Ele está sempre indicando o que quer que façam por seu
amor.
Quantas ações de graças devem dar
ao senhor por tantos favores! Como devem escutá-lo com grande atenção e
realizar fiel e prontamente suas divinas vontades!
A Santíssima Virgem escutando os
louvores de sua prima Isabel se humilhava e por tudo glorificava a Deus,
confessando que toda a sua felicidade procedia de que Ele havia olhado a
humildade de sua serva e entoa o formoso e admirável canto do “Magnificat”, que
supera todos cantados por outras mulheres que a Sagrada Escritura menciona.
Oh minhas queridas Irmãs, quem
tem esta Virgem por Mãe, Filhas da Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel,
devem ter um grande cuidado em imitá-la, sobretudo na sua humildade e caridade,
que são as principais virtudes que a motivaram fazer esta visita; portanto devem
ter uma grande diligência e
alegria para visitar suas
Irmãs enfermas, aliviando-as e servindo-as cordialmente em suas enfermidades,
espirituais e corporais; e para tudo o que se refere a praticar a humildade e a caridade
deve por especial cuidado e prontidão; porque para ser Filha de Nossa Senhora
não basta estar nas casas da Visitação e levar o véu de Religiosa. Seria
cometer uma ofensa a esta Mãe, contentando-se com isto.
É necessário imitá-la em sua
santidade e virtudes; portanto, minhas queridas Irmãs, sejam cuidadosas em
conformar suas vidas com a dela; sejam doces, humildes,
caridosas e bondosas; com ela glorifiquem
o Senhor nesta vida. Que se o fazem fiel e humildemente neste mundo,
indubitavelmente que no céu cantarão com Ela, “Magnificat”; e bendizendo com
este cântico a Divina Majestade, serão abençoadas por Ela durante toda a
eternidade, conduzindo-nos a Santíssima Trindade.
Extraído do sermão de
São Francisco de Sales para a festa da Visitação, 1618.