São Francisco de Sales
Diz-nos o jovem
Bispo em seu grande sermão de 15 de agosto de 1602, falando da Assunção em
Saint-Jean-de-Grève.
"Nossa senhora morreu pela morte de seu Filho, pois
Ela não tem outra vida que a de seu Filho: “não vivia senão a vida do seu
Filho, como poderia, pois, morrer de outra morte que da Sua? Na verdade eram
duas pessoas, Nosso Senhor e Nossa Senhora, mas um só coração, em uma só alma,
em um só espírito, em uma só vida, posto que se o laço da caridade unia tão
fortemente os cristãos da primitiva Igreja que São Lucas assegura que não
tinham senão um só coração e uma só alma (At 4, 32), com quantas mais razões
podemos dizer e crer que o Filho e a Mãe, Nosso Senhor e Nossa Senhora, não
eram senão uma só alma e uma só vida”! (VII, 443). Isso fazia São Paulo dizer:
“Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). Só o amor de Maria
era maior que o do apóstolo: porque se viveu de sua vida, também morreu de sua
morte” (VII, 443-444).
“Certamente, Nossa
Senhora foi ferida e alcançada pelo dardo de dor na paixão de seu Filho no
monte Calvário e não morreu naquela hora, mas suportou por longo tempo sua
chaga, da qual, por fim, morreu” (VII, 447). O Filho morreu de amor, a Mãe
também. Esta chaga de amor a impediu viver na Igreja e trabalhar pela Igreja?
Certamente, “seu coração, sua alma e sua vida estavam no Céu". E
como!
"Ela pode
continuar vivendo na terra”? (VII, 450). E no entanto, continuou na terra, para
que? Cristo era “a luz maior”, a Virgem “a menor”; a grande para presidir o
dia, a menor, a noite. Como depois da Ascensão desapareceu a grande luz, “a
noite chegou repentinamente, tirando o lugar do dia, porque tantas aflições e
perseguições, como tiveram que sofrer os Apóstolos, o que era senão noite
fechada? Mas, no meio desta noite havia também uma luz, a fim de que as trevas
fossem mais toleráveis, porque a Virgem Maria permaneceu na terra no meio dos
discípulos”: “era necessária esta luz, para consolo dos fiéis que se
encontravam na noite da aflição e sua permanência aqui, abaixo, lhe deu ocasião
de fazer muitas obras boas e por isso podemos dizer: muitas jovens juntaram
riquezas, porém Tu superaste a todas” (Pr 31, 29).
“Esta Santa Arca da Nova
Aliança, pois, ficou no deserto deste mundo, debaixo das tendas e pavilhões,
depois da ascensão de seu Filho” (VII, 441-442), para consolar, iluminar e
confortar os primeiros cristãos. Sua soberana união mística com seu filho, e
por seu Filho de Deus não a impediu atuar e servir a comunidade dos discípulos.
O dogma da Assunção refere-se a que a Mãe de Deus, no fim de sua vida terrena foi elevada em corpo e alma à glória celestial. Este dogma foi proclamado ex cathedra pelo Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950, por meio da Constituição Munificentissimus Deus:
- "Depois de elevar a Deus muitas e reiteradas preces e de invocar a luz do Espírito da Verdade, para glória de Deus onipotente, que outorgou à Virgem Maria sua peculiar benevolência; para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte; para aumentar a glória da mesma augusta Mãe e para gozo e alegria de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória do céu".
- "A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos" (n. 966).