terça-feira, 7 de maio de 2013

MARIA, MÃE E APASCENTADORA

Darlan dos Santos
4º de teologia do Seminário Maria Mater Ecclesiae
Diocese de Bonfim - BA



Contemplando a Santíssima Virgem Maria com a invocação “Maria, Mãe Apascentadora” é sumamente importante olharmos para Cristo que se apresenta como Pastor: “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dar a sua vida pelas suas ovelhas” (Jo 10.11). Compreendemos a oblação de Cristo no mistério da Redenção na Cruz, Ele é o verdadeiro Pastor que por amor se entregou para redimir suas ovelhas. É o evento da Cruz que ilumina a invocação “Maria, Mãe Apascentadora” apartir do texto narrado por São João (19. 25-27):

Junto à cruz de Jesus estava de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, a mulher de Cleofas e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse á sua mãe: “Mulher, eis ai o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis ai tua mãe.” E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.

A morte do Bom Pastor gerou uma morte de amor no coração da Virgem Mãe assim afirma São Francisco de Sales: “Ora, se essa Mãe viveu da vida de seu Filho, morreu também da morte de seu Filho; porquanto tal é a vida, tal é a morte”. “A doce mãe mais do que todos amava, mais do que todos foi traspassada pela espada de dor (Lc 2,35). A dor do Filho foi então uma espada cortante que passou através do coração da mãe, visto que aquele coração de mãe estava colado, junto e unido ao seu Filho com uma união tão perfeita, que nada podia ferir um sem ferir também vivamente o outro” (Teotimo. Livro VII, cap. XIII). A Virgem participou de modo ativo nas dores mortais do seu Filho dando-se a Ele pelo seu Rebanho de modo maternalmente.

É importante considerarmos que a invocação “Apascentadora” está unida a de “Mãe”, pois uma está unida a outra constituindo uma somente. É preciso considerar a maternidade de Maria no plano da salvação apartir do evento da Cruz. Das próprias palavras de Cristo dirigidas a João: “Eis ai tua Mãe” (Jo 19.27) entendemos a maternidade espiritual de Maria em relação ao Rebanho de Cristo. O Rebanho do Bom Pastor O tem como guia e redentor, mas Ele quis que sua própria Mãe participasse do seu ofício de apascentar as suas ovelhas, pois a mesma foi sua “apascentadora” desde a concepção até a Cruz.

Na Encíclica Redemptoris Mater o Beato João Paulo II escreve: “”A mediação de Maria está intimamente ligada à sua maternidade e possui um caráter especificamente maternal, que a distingue da mediação das outras criaturas. Deste ponto de vista, Ela é única no seu gênero e singularmente eficaz… o mesmo Concílio Vaticano II cuidou de responder, afirmando que Maria é para nós a Mãe na ordem da graça” (LG, 61). Recordamos que a mediação de Maria se qualifica fundamentalmente pela sua maternidade divina. O reconhecimento do papel de Medianeira está, além disso, implícito na expressão “nossa Mãe””, que propõe a doutrina da mediação Mariana, pondo em evidência a maternidade. Por fim, o título “Mãe” na ordem da graça esclarece que a Virgem coopera com Cristo no renascimento espiritual da humanidade”.

Maria é a Mãe do Bom Pastor e nossa Mãe na ordem da graça, e por isso temos acesso ao seu Coração materno porque assim quis o seu Filho; Ele no-la entregou a nós que somos o seu Rebanho, a Igreja; Jesus passando boa parte de sua vida ao lado de Maria confia agora ao seu Rebanho para que ele a guarde e deixe-se apascentar pela suas mãos carinhosas. Contemplando Maria como nossa “Mãe”, somos impelidos amá-la como Jesus a amou, com um coração filial e na entrega aos seus cuidados maternais, por isso devemos com toda propriedade chamá-la de “Mãe”.

O segundo aspecto da invocação “Maria, Mãe Apascentadora” é de que Maria é uma mãe solicita e ativa na cooperação da obra do Bom Pastor e é o que afirma o papa Paulo VI em sua Exortação Apostólica Signum Magnum n. 1: “A Virgem continua agora no céu a exercer a sua função materna, cooperando para o nascimento e o desenvolvimento da vida divina em cada uma das almas dos homens redimidos”. A Virgem Maria não é somente a Mãe do Bom Pastor, mas é “apascentadora” das ovelhas redimidas pelo sangue de Cristo, seu Filho. Maria  continua na glória intercedendo pela humanidade ferida pelo pecado para que retornem para o rebanho de seu Filho, que é a Igreja. Antes de sua morte Jesus olhando para Maria diz: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26) como num ato de confiar todas as suas ovelhas a sua proteção, ao seu amor; precisamente neste momento que o Bom Pastor confia seu Rebanho ela é constituída “Pasculatrix animarum”, pela sua cooperação na salvação de todas as suas ovelhas. A invocação “Apascentadora” leva-nos a compreender que Maria cuida e guia as ovelhas feridas, desgarradas e cansadas para os prados da vida eterna e para as fontes de água viva que jorram do peito ferido do Salvador, pois do seu seio jorrarão rios de água viva (Jo 7,38) para que bebamos até saciar-se. Podemos atribuir a Santíssima Virgem por analogia as palavras da Amada dos cânticos dos cânticos: “Avisa-me, amado de minha alma, onde apascentas, onde descansas o rebanho ao meio-dia, para que eu não vagueie perdida entre os rebanhos dos teus companheiros. Se não sabes, ó mais bela das mulheres, segue o rastro das ovelhas, leva as cabras a pastar junto às tendas dos pastores” (Ct 1,7-8).

O papa Pio XII confirmava esta invocação quando dirigia algumas palavras significativas a um grupo de peregrinos genoveses no dia 21 de abril de 1940: “A Ela (Maria) que amou a Cristo mais que a Pedro, Jesus confiava na pessoa de João, ao pé da Cruz redentora do mundo, como filhos seus todos os homens, ovelhas e cordeiros de um rebanho reunido e disperso, constituindo-a assim Pasculatrix animarum, Mãe universal de todos os crentes e comparando-a a Pedro, que é o Pai universal de todos, pastor terrestre”.