Darlan dos Santos
4º de teologia do Seminário Maria Mater Ecclesiae
Diocese de Bonfim - BA
Contemplando a Santíssima Virgem Maria
com a invocação “Maria, Mãe Apascentadora” é sumamente importante olharmos para
Cristo que se apresenta como Pastor: “Eu
sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dar a sua vida pelas suas ovelhas” (Jo
10.11). Compreendemos a oblação de Cristo no mistério da Redenção na Cruz, Ele
é o verdadeiro Pastor que por amor se entregou para redimir suas ovelhas. É o
evento da Cruz que ilumina a invocação “Maria, Mãe Apascentadora” apartir do
texto narrado por São João (19. 25-27):
Junto à
cruz de Jesus estava de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, a mulher de
Cleofas e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que
amava, disse á sua mãe: “Mulher, eis ai o teu filho”. Depois
disse ao discípulo: “Eis ai tua mãe.” E dessa hora em diante o discípulo a
levou para a sua casa.
A morte do
Bom Pastor gerou uma morte de amor no coração da Virgem Mãe assim afirma São
Francisco de Sales: “Ora, se essa Mãe viveu da vida de seu Filho, morreu também
da morte de seu Filho; porquanto tal é a vida, tal é a morte”. “A doce mãe mais
do que todos amava, mais do que todos foi traspassada pela espada de dor (Lc
2,35). A dor do Filho foi então uma espada cortante que passou através do
coração da mãe, visto que aquele coração de mãe estava colado, junto e unido ao
seu Filho com uma união tão perfeita, que nada podia ferir um sem ferir também
vivamente o outro” (Teotimo. Livro VII, cap. XIII). A Virgem participou de modo
ativo nas dores mortais do seu Filho dando-se a Ele pelo seu Rebanho de modo
maternalmente.
É importante considerarmos
que a invocação “Apascentadora” está unida a de “Mãe”, pois uma está unida a outra
constituindo uma somente. É preciso considerar a maternidade de Maria no plano
da salvação apartir do evento da Cruz. Das próprias palavras de Cristo
dirigidas a João: “Eis ai tua Mãe”
(Jo 19.27) entendemos a maternidade espiritual de Maria em relação ao Rebanho
de Cristo. O Rebanho do Bom Pastor O tem como guia e redentor, mas Ele quis que
sua própria Mãe participasse do seu ofício de apascentar as suas ovelhas, pois
a mesma foi sua “apascentadora” desde a concepção até a Cruz.
Na Encíclica Redemptoris
Mater o Beato João Paulo II escreve: ”A mediação
de Maria está intimamente ligada à sua maternidade e possui um caráter
especificamente maternal, que a distingue da mediação das outras criaturas.
Deste ponto de vista, Ela é única no seu gênero e singularmente eficaz… o mesmo
Concílio Vaticano II cuidou de responder, afirmando que Maria é para nós a Mãe
na ordem da graça (LG, 61).
Recordamos que a mediação de Maria se qualifica fundamentalmente pela sua
maternidade divina. O reconhecimento do papel de Medianeira está, além disso,
implícito na expressão “nossa Mãe”, que propõe
a doutrina da mediação Mariana, pondo em evidência a maternidade. Por fim, o
título “Mãe” na ordem da graça esclarece que
a Virgem coopera com Cristo no renascimento espiritual da humanidade”.
Maria é a Mãe do Bom Pastor e nossa Mãe na ordem da graça, e por
isso temos acesso ao seu Coração materno porque assim quis o seu Filho; Ele
no-la entregou a nós que somos o seu Rebanho, a Igreja; Jesus passando boa
parte de sua vida ao lado de Maria confia agora ao seu Rebanho para que ele a
guarde e deixe-se apascentar pela suas mãos carinhosas. Contemplando Maria como
nossa “Mãe”, somos impelidos amá-la como Jesus a amou, com um coração filial e
na entrega aos seus cuidados maternais, por isso devemos com toda propriedade
chamá-la de “Mãe”.
O segundo
aspecto da invocação “Maria, Mãe Apascentadora” é de que Maria é uma mãe
solicita e ativa na cooperação da obra do Bom Pastor e é o que afirma o papa
Paulo VI em sua Exortação Apostólica Signum
Magnum n. 1: “A Virgem continua agora no céu a exercer a sua função
materna, cooperando para o nascimento e o desenvolvimento da vida divina em
cada uma das almas dos homens redimidos”. A Virgem Maria não é somente a Mãe do
Bom Pastor, mas é “apascentadora” das ovelhas redimidas pelo sangue de Cristo,
seu Filho. Maria continua na glória
intercedendo pela humanidade ferida pelo pecado para que retornem para o
rebanho de seu Filho, que é a Igreja. Antes de sua morte Jesus olhando para
Maria diz: “Mulher, eis o teu filho”
(Jo 19,26) como num ato de confiar todas as suas ovelhas a sua proteção, ao seu
amor; precisamente neste momento que o Bom Pastor confia seu Rebanho ela é
constituída “Pasculatrix animarum”,
pela sua cooperação na salvação de todas as suas ovelhas. A invocação
“Apascentadora” leva-nos a compreender que Maria cuida e guia as ovelhas
feridas, desgarradas e cansadas para os prados da vida eterna e para as fontes de
água viva que jorram do peito ferido do Salvador, pois do seu seio jorrarão rios de água viva (Jo 7,38) para que bebamos
até saciar-se. Podemos atribuir a Santíssima Virgem por analogia as palavras da
Amada dos cânticos dos cânticos: “Avisa-me,
amado de minha alma, onde apascentas, onde descansas o rebanho ao meio-dia,
para que eu não vagueie perdida entre os rebanhos dos teus companheiros. Se não
sabes, ó mais bela das mulheres, segue o rastro das ovelhas, leva as cabras a
pastar junto às tendas dos pastores” (Ct 1,7-8).
O papa Pio XII confirmava esta invocação quando
dirigia algumas palavras significativas a um grupo de peregrinos genoveses no
dia 21 de abril de 1940: “A Ela (Maria) que amou a Cristo mais que a Pedro,
Jesus confiava na pessoa de João, ao pé da Cruz redentora do mundo, como filhos
seus todos os homens, ovelhas e cordeiros de um rebanho reunido e disperso,
constituindo-a assim Pasculatrix animarum,
Mãe universal de todos os crentes e comparando-a a Pedro, que é o Pai universal
de todos, pastor terrestre”.