domingo, 25 de dezembro de 2011

A VERDADEIRA DEVOÇÃO

                                                       São Francisco de Sales
doutor da Igreja



A devoção deve ser praticada de diversos modos, pelo cavalheiro, pelo operário, pelo trabalhador, pelo príncipe, pela viúva, pela solteira e pela esposa. E isto não basta; mas é necessário que a prática da devoção seja adaptada às forças, às ocupações e aos deveres de cada um em particular.

Dize-me, ó Filotéia: seria conveniente que um bispo procurasse a solidão como os Cartuxos? E que as pessoas casadas não quisessem aumentar sua fortuna, como os Capuchinhos? E o que o trabalhador freqüentasse a Igreja com tanta assiduidade quanto o religioso no ofício coral? E que os religiosos se dedicassem continuamente a encontros de toda espécie em favor do próximo, como o bispo? Essa devoção não seria ridícula, desregrada e intolerável? No entanto, com freqüência se cai nesse erro absurdo.
Não, Filotéia, a devoção, se for verdadeira e sincera, não estraga nada; mas leva as coisas à perfeição; e se às vezes não se coaduna com a legítima vocação de alguma pessoa, então, sem dúvida, é devoção falsa.

A abelha tira o mel das flores sem feri-las, mas deixando-as íntegras e frescas como as encontrou; e a verdadeira devoção faz ainda melhor, pois que não somente não estraga nenhuma vocação e ocupação, mas, ao contrário, agrega-lhe beleza e valor. Com ela, de fato, governa-se a família com mais serenidade, com ela o amor entre marido e mulher torna-se mais sincero; e mais fiel a submissão à autoridade; com ela, cumprem-se todas as obrigações de modo mais suave e mais amável

É um erro, antes, uma heresia, querer excluir a vida devota da caserna dos soldados, das oficinas dos artesãos, da corte dos príncipes, da casa dos casados. Sim, é verdade, caríssima Filotéia, a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa, não pode ser exercida nesses empregos e nessas situações, mas é também verdade que, além destas três formas de devoção, há ainda outras, aptas a aperfeiçoar os leigos nos seus diferentes estados de vida.

Em qualquer estado em que nos encontremos, podemos e deve-se aspirar à vida perfeita.