terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A ESPIRITUALIDADE SACERDOTAL EM SANTO TOMÁS DE AQUINO

 Felix M. Alvarez Herrera
 Missionário do Espírito Santo


Ícone de Cristo Sacerdote


A missão do sacerdote é no fundo a mesma de Cristo e dos apóstolos: dar glória a Deus e salvar os homens.

Da dupla função do sacerdote, a função litúrgica e a função pastoral, a primeira em relação direta com o Corpo real, sacramental de Cristo, a segunda com relação ao seu corpo místico, deduz Santo Tomás de Aquino, o grau de perfeição que deve possuir o sacerdote, o espírito que o deve animar e as virtudes que devem caracterizá-lo.

Santo Tomás diz que por causa de sua função litúrgica o sacerdote está obrigado a uma maior perfeição que o religioso como tal. Têm-se aqui algumas palavras textuais: “É evidente que o sacerdote é superior ao simples religioso enquanto a dignidade. Porque pelas sagradas ordens o homem se consagra a ministérios diviníssimos, pelos quais se serve o mesmo Cristo no sacramento do altar. E para isto se requer maior santidade interior que a que requer o estado religioso”.

Ao urgir este primordial motivo de santidade no sacerdote, o motivo litúrgico, Santo Tomás se apoia firmemente na Sagrada Escritura e se faz eco de uma vigorosa tradição que conta com preclaros e numerosíssimos representantes, tradição que formula assim brevemente São Roberto Belarmino: “Se tanta justiça, santidade e fervor se exigiam a aqueles sacerdotes que imolavam ovelhas e bois, e louvavam a Deus por benefícios temporais, que não se há de pedir aos que sacrificam o Cordeiro Divino e oferecem ações de graças por bens sempiternos”?

Ademais do motivo litúrgico, Santo Tomás assinala outro motivo de santidade no sacerdote, o motivo pastoral, que diz relação com o corpo místico de Cristo. Segundo o Evangelho, o pastoreio das almas significa para o sacerdote um compromisso de caridade heroica porque o obriga a estar disposto a dar a vida por suas ovelhas, a exemplo do Bom Pastor (Jo 10.11). Porém, se está obrigado a uma caridade heroica e máxima, está obrigado à perfeição, porque a essência da perfeição é a CARIDADE. Diretamente, esta caridade significa amor pelas almas, porém este amor implica e pressupõe o amor a Cristo, segundo aquela insistente pergunta de Jesus a Pedro: “Tu me amas mais que a estes? (Jo 21.15)”, de cuja resposta afirmativa fez depender o mesmo Cristo o exercício do ofício pastoral, como se dissesse: “Se me amas, apascente minhas ovelhas (Jo 21.16)”.

Deste duplo amor possuído em grau perfeito, superior ao que se professa em outros estados e assegurado por uma consagração definitiva a cura das almas, ao qual se refere ao pastor um papel ativo na santificação das mesmas, deduz o Doutor Angélico a superioridade do episcopado (e proporcionalmente, do sacerdócio) sobre os outros estados de perfeição que se dão na Igreja, a tal ponto, que se medirá a perfeição destes últimos pelo grau de similitude que tenham com os que em sentido pleno são pastores de almas, com os santos apóstolos e, em último, com o mesmo Cristo, ideal absolutamente perfeito do bom pastor.

É, pois a santidade sacerdotal consequência necessária de uma dupla premissa: uma delas relacionada com o Corpo real e sacramental de Cristo, e a outra relacionada com seu corpo místico.

TRADUÇÃO
Darlan dos Santos
Seminário Maria Mater Ecclesiae - SP