Dom Henrique Soares
O Quarto Domingo da Páscoa é
conhecido como Domingo do Bom Pastor porque nele sempre se lê como evangelho um
trecho do capítulo 10 de S. João, onde Cristo se apresenta como Bom Pastor.
“Ressuscitou o Bom Pastor, que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo rebanho” – é
a antiga exclamação da antífona de comunhão para a missa de hoje.
Diante dos maus pastores de Israel,
Deus mesmo havia prometido pastorear o seu povo, reunindo e cuidando de suas
ovelhas. Pois bem, agora o Cristo diz: “Eu sou o Bom Pastor” – em grego, “bom”
diz-se kalós, que significa “belo,
perfeito, pleno, completo”. Jesus apresenta-se, portanto, como o Belo Pastor, o
Pastor por excelência, o único Pastor verdadeiro, o próprio Deus que vem
apascentar Israel. E por que ele é o Bom Pastor? “Porque eu dou a minha vida
pelas ovelhas!”
Basta pensar que no antigo Israel não
se cultivava o pasto. Era o pastor quem conduzia o rebanho deserto adentro para
alimentar as ovelhas. Também era o pastor quem as guiava para o poço a fim de
dar-lhes de beber; quem cuidava de afugentar os perigos: lobos, leões,
salteadores, víboras... O pastor era, portanto, a vida do rebanho, aquele que
dava realmente a vida às ovelhas, de modo que existia uma comunhão entre
ovelhas e pastor: este amava suas ovelhas e aquelas conheciam a voz do pastor.
Pois bem: Jesus é o Bom Pastor:
“Minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem”. Para
sabermos se somos do rebanho do Cristo-Pastor vejamos se escutamos sua voz, que
ressoa na voz da Igreja e na voz de seus pastores, representantes do único
Pastor.
Jesus também diz: “Eu lhes dou a vida
eterna e elas jamais se perderão! E ninguém vai arrancá-las de minha mão!” Eis!
A profundidade dessas palavras é enorme! A vida eterna que o Bom Pastor já nos
dá nesta vida terrena é o seu próprio Espírito, que é sua mesma Vida divina,
Vida que ele, o Vivente, morto e ressuscitado, tem em abundância. Aqui
aparece nossa total dependência em relação ao Cristo: o cristão vive do seu
querido Pastor, alimenta-se dele. Ele nos leva às águas repousantes do Batismo,
ele unge nossa cabeça com o santo crisma a Confirmação, ele nos prepara a Mesa
da Eucaristia para que permaneçamos na sua Casa pelos tempos eternos.
Escutando as palavras do Cristo, não
é possível pensar um cristianismo que faz do seu jeito, que manipula a verdade,
que se julga dono de seu próprio nariz. A ovelha é dócil ao Pastor, o rebanho
segue, com todo abandono confiante, a voz do seu Pastor.
Apascenta-nos,
Senhor, neste deserto do mundo atual! Livra-nos dos leões, dos lobos astutos,
dos salteadores, muitas vezes disfarçados de pastores... Livra-nos da tremenda
ilusão de encontrar pasto, água e repouso longe de ti! Somente encontraríamos a
morte! “Possa eu viver e para sempre te louvar; e que me ajudem, ó Senhor, os
teus conselhos! Se eu me perder como uma ovelha, procura-me, porque nunca
esqueci os teus preceitos!” (Sl 118).