terça-feira, 29 de maio de 2012

A VISITAÇÃO DA VIRGEM MARIA


Sermão de São Francisco de Sales para a festa da Visitação, 1618. 
Dirigido as Monjas Visitandinas.

Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo.  Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu ventre”! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido. (lc 1.39-45)


Nossa amável e insuficientemente amada Senhora e mestra, a gloriosa Virgem, enquanto deu seu consentimento as palavras do arcanjo São Gabriel, o mistério da Encarnação se realizou nela. E sabendo pelo mesmo São Gabriel que sua prima Isabel havia concebido um filho em sua velhice, quis ir vê-la desejando servi-la e ajuda-la, porque sabia que isto era da vontade de Deus; com prontidão saiu de Nazaré, pequena cidade da Galileia para ir a Judeia a casa de Zacarias. Empreendeu a viagem longa e difícil subindo a montanha da Judeia, um caminho muito pesado para esta terna e delicada Virgem.

O que impulsionou particularmente a nossa gloriosa Mestra a fazer esta visita foi sua ardente caridadee sua profunda humildade; sim, minhas queridas Irmãs, estas duas virtudes a fizeram deixar Nazaré, por que a caridade não é ociosa, senão que arde nos corações em que habita e reina, a Santíssima Virgem estava plena dela, pois que levava o Amor mesmo em suas entranhas. Ela tinha contínuos atos de amor, não somente com Deus com o qual estava unida pela mais perfeita dileção, senão que tinha o amor do próximo em grande perfeição, que a fazia desejar ardentemente a salvação das almas.
Nossa Senhora se alegra com sua prima; elas são impulsionadas a glorificar a Deus que havia derramado tantas graças: sobre ela, que era virgem, fazendo-a conceber o Filho de Deus por obra do Espírito Santo, e sobre Santa Isabel que era estéril, concebendo milagrosamente e por graça especial a aquele que devia ser o precursor do Messias.

Com a caridade, a Santíssima Virgem havia recebido uma profunda humildade, como a manifesta a que responde ao louvor de Isabel: “Porque Deus olhou para a humildade de sua serva, doravante as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1.48).
Ao dizer humilde ela não se referia a virtude da humildade senão a própria condição que via em si mesma, ao que era por natureza e do nada que havia saído. Nosso Senhor deu testemunho da humildade de sua mãe, quando a louvando chama “mulher”, Ele manifesta que é feliz porque o tem levado em seu ventre, porém, pela humildade com que ela diz “sim” a vontade do Pai celestial e a ter cumprido.
O evangelista disse que a Virgem se levantou apressada para mostrar sua prontidão com a que se devem seguir as inspirações divinas; porque é próprio do Espírito Santo, quando toca um coração, inquietá-lo; Ele ama a diligência e a prontidão; é inimigo de prazos e atrasos na execução do que é a vontade de Deus.
Minhas queridas Irmãs, como devem estar cheias de alegria quando são visitadas por este Divino Salvador no Santíssimo Sacramento do altar, e pelas graças interiores que diariamente recebem de sua Divina Majestade, por tantas inspirações e palavras que Ele fala a seus corações; porque Ele está sempre indicando o que quer que façam por seu amor.
Quantas ações de graças devem dar ao senhor por tantos favores! Como devem escutá-lo com grande atenção e realizar fiel e prontamente suas divinas vontades!
A Santíssima Virgem escutando os louvores de sua prima Isabel se humilhava e por tudo glorificava a Deus, confessando que toda a sua felicidade procedia de que Ele havia olhado a humildade de sua serva e entoa o formoso e admirável canto do “Magnificat”, que supera todos cantados por outras mulheres que a Sagrada Escritura menciona.

Oh minhas queridas Irmãs, quem tem esta Virgem por Mãe, Filhas da Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel, devem ter um grande cuidado em imitá-la, sobretudo na sua humildade e caridade, que são as principais virtudes que a motivaram fazer esta visita; portanto devem ter uma grande diligência e alegria para visitar suas Irmãs enfermas, aliviando-as e servindo-as cordialmente em suas enfermidades, espirituais e corporais; e para tudo o que se refere a praticar a humildade e a caridade deve por especial cuidado e prontidão; porque para ser Filha de Nossa Senhora não basta estar nas casas da Visitação e levar o véu de Religiosa. Seria cometer uma ofensa a esta Mãe, contentando-se com isto.

É necessário imitá-la em sua santidade e virtudes; portanto, minhas queridas Irmãs, sejam cuidadosas em conformar suas vidas com a dela; sejam doces, humildes, caridosas e bondosas; com ela glorifiquem o Senhor nesta vida. Que se o fazem fiel e humildemente neste mundo, indubitavelmente que no céu cantarão com Ela, “Magnificat”; e bendizendo com este cântico a Divina Majestade, serão abençoadas por Ela durante toda a eternidade, conduzindo-nos a Santíssima Trindade.



domingo, 27 de maio de 2012

O ÍCONE DA MÃE


Neste Formativo queremos considerar a importancia da Virgem Maria em nossa espiritualidade e da importância de seu Ícone como expressão de bondade para nós, seus filhos e ovelhas do seu rebanho. A invocação “Apascentadora” é singular e original, pois somente nossa pequena Família invoca a Virgem Santíssima deste modo, por isso temos a missão de torná-la conhecida e amada com esta invocação para que todos quantos se achegarem a Ela experimentem sua bondade, ternura e misericórdia. A invocação é fruto da intuição interior de um de seus filhos no dia 02 de fevereiro de 2008.

 Aqui queremos contenplar o Ícone como um elemento de suma importância para a espiritualidade dos Pastoristas; podemos dizer que esta invocação tem o mesmo sentido teologico de mais dois títulos: Divina Pastora e Mãe do Bom Pastor, mas a invocação “Apascentadora” está unida ao ícone e por isso com formas e sentidos diferentes. Vamos fazer uma contemplação da iconografia buscando entender todo o seu conjunto espiritual.

MARIA – A Virgem Maria é a “Mãe” que nós recebemos no momento da oblação do Bom Pastor na Cruz quando ele disse: “Eis aí tua Mãe”(Jo 19.27); em Maria nós contemplamos a maternidade espiritual em nosso favor e por meio dela contemplamos a entrega de Cristo pela humanidade ferida. Maria deve ser para nós Pastoristas acima de tudo como Mãe amorosa, cheia de bondade, ternura e misericórdia; senti-la não de modo distante, mas perto do nosso coração e que vive constantemente atenta a nós com seu doce olhar. No ícone seu rosto é todo bondade, seu olhar é penetrante e ao mesmo tempo expressa uma profunda ternura para com todos nós seus filhos. Segurando o pequeno Bom Pastor e a ovelhinda ela se mostra como “Apascentadora” pelo ato de segurar o próprio Deus e a humanidade. Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do filho do seu ventre?(Is 49,15), esta é a imagem que nos é transmitida e que devemos amar. Maria é apascentadora não somente de Jesus em todas as fazes de sua vida como também continua sendo de todos os seus filhos; não é ela uma mãe indiferente, mas sente os anseios e sofrimentos de seus filhos.

JESUS – Mesmo ainda pequeno nos braços da Virgem, Cristo é o Bom Pastor, já contempla a pequena ovelha, por quem dará sua vida: Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11). Sua atitude é reflexo da sua terna compaixão pela humanidade: “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido (Lc 19.10).”. Seu braço segurando a ovelha é a atitude de segurança e de resgate; envolvendo o pescoço de Maria deseja envolver sua Mãe na sua vocação de Apascentador. Jesus abraça sua mãe porque a ama e porque encontra nela ternura e calor e quer que todos os que o seguir também encontrem nesta mãe todo consolo maternal que vem do seu coração de Mãe e Apascentadora.

CRUZ e COROA – Estes elementos que estão nas mãos dos anjos representam a PAIXÃO, fazendo referência à doação da vida do Bom Pastor; foi por este caminho doloroso que Jesus entregou sua vida pelas suas ovelhas, “Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou livremente”. (Jo 10,18).; a Cruz e Coroa são o trono e a glória do Filho de Deus que se contrapõe a honra que o mundo busca. O Bom Pastor é o transpassado que nós contemplamos, é aquele que dar sua vida a cada passo da Paixão. O caminho da cruz é a via segura da santidade de um Pastorista, encontrando em cada momento dolorosa uma oportunidade de abraçar a cruz para melhor se conformar ao Bom Pastor. A coroa é o chamado a humidade e não a busca de sucesso nesta vida, a busca de nós mesmos.

OVELHA - A ovelha representa o homem ferido pelo pecado a quem o Bom Pastor veio para resgatar das amarras do lobo, o demônio, “Certamente eu mesmo cuidarei do meu rebanho e dele me ocuparei. Buscarei a ovelha que estiver perdida, reconduzirei a que estiver desgarrada, pensarei a que estiver fraturada e restaurarei a que estiver abatida”. (Ez 34,11. 16). No ícone a ovelha experimenta o amor de Jesus que a contempla com compaixão, que a cura e que lhe oferece a sua infinita misericórdia; a ovelha ao mesmo tempo experimenta a ternura e bondade de Maria porque está junto ao seu coração materno; o homem resgatado não só experimenta o amor de Cristo, mas também o de Maria pela sua mão carinhosa que o sustenta com segurança e doçura. Somos também esta ovelha nos braços de Maria porque nossa relação com a Virgem bondosa é totalmente filial e nela nós nos apegamos e devemos deixar-nos amar por Ela.

Por fim, acolhamos a Virgem Apascentadora como Mãe misericordiosa e a invoquemos cotidianamente experimentando o amor maternal que brota do seu puro coração, amor consolador, confortador, misericordioso, terno e inigualável. Provemos nosso amor por Ela pelo constante e filial dialogo na oração, na renuncia de nós mesmos e na bondade com todos.   

CONTEMPLARI ad PASCENDUM