sábado, 31 de dezembro de 2011

SOLENIDADE DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS

Theotokos de Vladimir

Na Igreja Católica, a solenidade da Theotokos é comemorado em 1 de janeiro, juntamente com o Dia Mundial da Paz. Esta solenidade data cerca de 500 d.C e foi originalmente comemorado nas Igrejas Orientais.
Definição dogmática pelo Concílio de Éfeso

O uso do termo Theotokos foi formalmente afirmado como dogma no Terceiro Concílio Ecumênico realizado em Éfeso, em 431. A visão contrária, defendida pelo patriarca de Constantinopla Nestórioera que Maria devia ser chamada de Christotokos, que significa "Mãe de Cristo", para restringir o seu papel como mãe apenas da natureza humana de Cristo e não da sua natureza divina.
Os adversários de Nestório, liderados por Cirilo de Alexandria, consideravam isto inaceitável, pois Nestório estava destruindo a união perfeita e inseparável da natureza divina e humana em Jesus Cristo, uma vez que em Cristo "Verbo se fez carne" (João 1:14), ou seja o Verbo (que é Deus - João 1:1) é a carne; e a carne é o Verbo, Maria foi a mãe da carne de Cristo e por consequencia do Verbo. Cirilo escreveu que "Surpreende-me que há alguns que duvidam que a Virgem santa deve ser chamada ou não de Theotokos. Pois, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, e a Virgem santa deu-o à luz, ela não se tornou a [Theotokos]?"[2] A doutrina de Nestório foi considerada uma falsificação da Encarnação de Cristo, e por consequência, da salvação da humanidade. O Concílio aceitou a argumentação de Cirilo, afirmou como dogma o título de Theotókos de Maria, e anamatizou Nestório, considerando sua doutrina (Nestorianismo) como uma heresia.

TRADUÇÃO
Sua tradução literal para o português incluí "portadora de Deus". Na teologia calcedoniana Maria é a Theotokos, porque seu filho Jesus é simultaneamente Deus e homem, divino e humano, Theotokos, portanto, refere-se à Encarnação, quando Deus assumiu a natureza humana em Jesus Cristo, sendo isto possível graças à cooperação de Maria.
Traduções menos literais incluem Mãe de Deus. Católicos, anglicanos, e algumas denominações protestantes usam com mais freqüência o título de "Mãe de Deus" do que "Theotokos". O título de Maria como Mãe de Deus em alguns ocasiões causa má interpretação, esse título não refere-se à Maria como Mãe de Deus desde a eternidade (no Kairos), mas apenas como mãe de Jesus, que por ser verdadeiramente Deus, torna-se também a Mãe de Deus na Terra (noChronos). Em contrapartida, Theotokos torna explícito seu significado teológico, excluindo assim qualquer mal-entendido da maternidade divina de Maria.
Diversos Padres da Igreja nos três primeiros séculos defendem Maria como a Theotokos, como Orígenes (254), Atanásio (330) e João Crisóstomo (400). OConcílio de Éfeso decretou esta doutrina dogmaticamente em 431.

Santa Maria Mãe de Deus
Rogai por nós!

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

FIQUE EM PAZ

São Francisco de Sales




Em tudo o que a Providência
Divina te envia,
Se teu coração geme em dor
E graves preocupações:

Fique em paz!

Quando uma grande felicidade
Te encontra
E tua alma gostaria de tremer
Em júbilo:
Fique em paz!

Quando um mal estiver
Diante de ti
Do qual deve fugir
Então faça-o sem perturbação
E irritação:

Fique em paz!

Não se preocupe com as
Coisas estranhas
Desta vida
Procure a Deus com o coração
Simples,
Procure-o em todas as coisas
E tu O encontrarás,
E n`Ele a calma de teu coração.

Fique em paz!


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

SALVE MARIA! SALVE RAINHA!

Darlan Santos
Seminário Maria Mater Ecclesiae - SP

Virgem de Guadalupe


Salve Maria
Lírio puríssimo do paraíso divino!
Salve Rainha
Imaculada desde toda eternidade!
Salve Maria, 
belíssima flor da humanidade!
Salve Rainha, 
Palácio onde habito o Rei dos reis!
Salve Maria, 
Sede da mais sublime Sabedoria!
Salve Rainha,
misericórdia dos corações atribulados!
Salve Maria
Mãe na ordem da Graça Divina!
Salve Rainha
potentíssimo auxílio dos cristãos!
Salve Maria
espelho reluzente do Jardim Celestial!
Salve Rainha
Apascentadora dos degredados filhos de Eva!
Salve Maria
Desolada na dolorosa morte de amor!
Salve Rainha
perfume suave da santidade!
Salve Maria
Esperança da nova Criação!
Salve Rainha
Esposa do Consolador e pai dos pobres!
Salve Maria
raio do sol do amor divino!
Salve Rainha
Vitória sobre o pecado e a morte!
Salve Maria
Sacrário da Trindade Santíssima!
Salve Rainha
boníssima Mãe da Igreja!
Salve Maria
Estrela suave da manhã!

Ó Gloriosíssima Mãe de Deus, eu não dou digno de volver meu miserável olhar para Vós, que sois a Imaculada e sem mácula de pecado. Não sou digno de suplicar-Vos misericórdia, porque o que mereço é a condenação eterna, pois ingrato sou por ter tantas vezes não vos ter amado de todo o meu coração. O Coração de teu amado Filho sentiu misericórdia de mim e me confiou a Vós como filho e por isso venho a Vós, minha doce Rainha.

Abandono-me inteiramente, e sem reservas em tuas mãos puríssimas; que eu tocado por Vós seja curado de todo ímpeto de pecado, e inflamado do vosso santíssimo Amor. Confio em vosso potentíssimo auxílio e em vossa bondade; em Vós confio com terna filialidade, confio cegamente e em toda situação; Mãe no vosso Filho e na vossa materna proteção. 


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A ESPIRITUALIDADE SACERDOTAL EM SANTO TOMÁS DE AQUINO

 Felix M. Alvarez Herrera
 Missionário do Espírito Santo


Ícone de Cristo Sacerdote


A missão do sacerdote é no fundo a mesma de Cristo e dos apóstolos: dar glória a Deus e salvar os homens.

Da dupla função do sacerdote, a função litúrgica e a função pastoral, a primeira em relação direta com o Corpo real, sacramental de Cristo, a segunda com relação ao seu corpo místico, deduz Santo Tomás de Aquino, o grau de perfeição que deve possuir o sacerdote, o espírito que o deve animar e as virtudes que devem caracterizá-lo.

Santo Tomás diz que por causa de sua função litúrgica o sacerdote está obrigado a uma maior perfeição que o religioso como tal. Têm-se aqui algumas palavras textuais: “É evidente que o sacerdote é superior ao simples religioso enquanto a dignidade. Porque pelas sagradas ordens o homem se consagra a ministérios diviníssimos, pelos quais se serve o mesmo Cristo no sacramento do altar. E para isto se requer maior santidade interior que a que requer o estado religioso”.

Ao urgir este primordial motivo de santidade no sacerdote, o motivo litúrgico, Santo Tomás se apoia firmemente na Sagrada Escritura e se faz eco de uma vigorosa tradição que conta com preclaros e numerosíssimos representantes, tradição que formula assim brevemente São Roberto Belarmino: “Se tanta justiça, santidade e fervor se exigiam a aqueles sacerdotes que imolavam ovelhas e bois, e louvavam a Deus por benefícios temporais, que não se há de pedir aos que sacrificam o Cordeiro Divino e oferecem ações de graças por bens sempiternos”?

Ademais do motivo litúrgico, Santo Tomás assinala outro motivo de santidade no sacerdote, o motivo pastoral, que diz relação com o corpo místico de Cristo. Segundo o Evangelho, o pastoreio das almas significa para o sacerdote um compromisso de caridade heroica porque o obriga a estar disposto a dar a vida por suas ovelhas, a exemplo do Bom Pastor (Jo 10.11). Porém, se está obrigado a uma caridade heroica e máxima, está obrigado à perfeição, porque a essência da perfeição é a CARIDADE. Diretamente, esta caridade significa amor pelas almas, porém este amor implica e pressupõe o amor a Cristo, segundo aquela insistente pergunta de Jesus a Pedro: “Tu me amas mais que a estes? (Jo 21.15)”, de cuja resposta afirmativa fez depender o mesmo Cristo o exercício do ofício pastoral, como se dissesse: “Se me amas, apascente minhas ovelhas (Jo 21.16)”.

Deste duplo amor possuído em grau perfeito, superior ao que se professa em outros estados e assegurado por uma consagração definitiva a cura das almas, ao qual se refere ao pastor um papel ativo na santificação das mesmas, deduz o Doutor Angélico a superioridade do episcopado (e proporcionalmente, do sacerdócio) sobre os outros estados de perfeição que se dão na Igreja, a tal ponto, que se medirá a perfeição destes últimos pelo grau de similitude que tenham com os que em sentido pleno são pastores de almas, com os santos apóstolos e, em último, com o mesmo Cristo, ideal absolutamente perfeito do bom pastor.

É, pois a santidade sacerdotal consequência necessária de uma dupla premissa: uma delas relacionada com o Corpo real e sacramental de Cristo, e a outra relacionada com seu corpo místico.

TRADUÇÃO
Darlan dos Santos
Seminário Maria Mater Ecclesiae - SP

domingo, 25 de dezembro de 2011

A VERDADEIRA DEVOÇÃO

                                                       São Francisco de Sales
doutor da Igreja



A devoção deve ser praticada de diversos modos, pelo cavalheiro, pelo operário, pelo trabalhador, pelo príncipe, pela viúva, pela solteira e pela esposa. E isto não basta; mas é necessário que a prática da devoção seja adaptada às forças, às ocupações e aos deveres de cada um em particular.

Dize-me, ó Filotéia: seria conveniente que um bispo procurasse a solidão como os Cartuxos? E que as pessoas casadas não quisessem aumentar sua fortuna, como os Capuchinhos? E o que o trabalhador freqüentasse a Igreja com tanta assiduidade quanto o religioso no ofício coral? E que os religiosos se dedicassem continuamente a encontros de toda espécie em favor do próximo, como o bispo? Essa devoção não seria ridícula, desregrada e intolerável? No entanto, com freqüência se cai nesse erro absurdo.
Não, Filotéia, a devoção, se for verdadeira e sincera, não estraga nada; mas leva as coisas à perfeição; e se às vezes não se coaduna com a legítima vocação de alguma pessoa, então, sem dúvida, é devoção falsa.

A abelha tira o mel das flores sem feri-las, mas deixando-as íntegras e frescas como as encontrou; e a verdadeira devoção faz ainda melhor, pois que não somente não estraga nenhuma vocação e ocupação, mas, ao contrário, agrega-lhe beleza e valor. Com ela, de fato, governa-se a família com mais serenidade, com ela o amor entre marido e mulher torna-se mais sincero; e mais fiel a submissão à autoridade; com ela, cumprem-se todas as obrigações de modo mais suave e mais amável

É um erro, antes, uma heresia, querer excluir a vida devota da caserna dos soldados, das oficinas dos artesãos, da corte dos príncipes, da casa dos casados. Sim, é verdade, caríssima Filotéia, a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa, não pode ser exercida nesses empregos e nessas situações, mas é também verdade que, além destas três formas de devoção, há ainda outras, aptas a aperfeiçoar os leigos nos seus diferentes estados de vida.

Em qualquer estado em que nos encontremos, podemos e deve-se aspirar à vida perfeita.





sábado, 24 de dezembro de 2011

NASCIMENTO DO PEQUENO BOM PASTOR

Darlan dos Santos
Seminário Maria Mater Ecclesiae  - SP






Caríssimos, convido a todos a fazermos uma contemplação deste grande mistério revelado a nós. O nascimento carnal do Filho de Deus entre nós nos faz lembrar as belíssimas palavras de São João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se extraviou por seu próprio caminho: e o Senhor carregou sobre ele a iniqüidade de todos nós. (Is 53.6).

Absolutamente todos nós andávamos perdidos, manchados, feridos, abatidos e abandonados por causa do afastamento do Criador, do mesmo que nos criou para Si. Andávamos como ovelhas sujas e feridas por causa do pecado, ou seja, da comunhão com o amor de Deus; pois o pecado é o afastamento do coração amoroso de Deus que é rico em misericórdia (Ef 24.4); mas como um bom Pastor Ele vem ao nosso encontro, ao encontro de nossa miséria, de nossa pobreza, elevar a nossa dignidade para que atinjamos a estatura de seu amado Filho.

Na manjedoura está o pequeno Bom Pastor, uma criança frágil, um Deus forte, inocente, um cordeiro sem mancha alguma; Ele é o esperado de todos os povos aquele que viria libertar-nos da escravidão. Seu coração pequeno bate ansioso para conviver com os homens e para como Pastor guiar seu rebanho rumo ao conhecimento do amor do Pai.

Ao lado deste doce menino encontra-se Aquela que revela para toda a humanidade a ternura e a misericórdia de Deus, Maria; podemos contemplá-la como a Boa Pastora, porque ao lado do Filho ela encontra-se unida aos seus mistérios, a sua vida e as suas ações. Esta linda Pastora contempla o Bom Pastor e em seu coração nasce a esperança de um novo povo guiado por seu cajado, este é o cristianismo.

Depois de termos feito uma contemplação desta realidade salvadora vamos nos remontar as palavras de Jesus quando diz: “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dar a sua vida pelas suas ovelhas” (Jo 10.11). Com certeza estas palavras estavam no coração de Jesus com anseio de uma realidade conhecida no seio do Pai que é o grande Pastor do seu rebanho. Deus mesmo disse: Eis que eu, eu mesmo, procurarei as minhas ovelhas, e as buscarei. (Ez 34.11).A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer; a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei; e a gorda e a forte vigiarei. “Apascentá-las-ei com justiça” (Ez 34.16). Podemos fundamentados nas palavras de Jesus afirmar que Ele é o Bom Pastor da manjedoura até a Cruz.

Nós vivíamos extraviados, mas agora não mais, nasceu para nós Aquele que é o grande Pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus Cristo (Hb 13.20). Somos felizes porque Deus mesmo nos busca e nos atrai a si; nas palavras de São João da Cruz podemos dizer: “Se é verdade que o homem busca a Deus, mais verdade é que Deus busca o homem”. É ele mesmo quem nos procura a todo instante como o pastor procura sua ovelha ferida e perdida (Lc 15.3-7). Sendo nós seguidores deste Pequeno Pastor deixemo-nos guiar pela força de seu braço, de seu cajado para chegarmos ao regaço do coração do Pai.

Maria é uma Mãe Apascentadora

Na manjedoura está a mulher mais amada da humanidade, ela que certamente foi amada pelo seu próprio Filho. Vemo-la ao lado dele atenciosa e contemplando Deus tão perto de si, Deus em seus braços e junto ao seu materno coração, é a união de corações. Esta bendita Mãe é representada pelos seus filhos de diversas maneiras, por várias culturas, pela arte e de tantos atos de amor é a linda Apascentadora; Apascentadora porque conduziu Jesus por caminhos onde somente o amor foi à lei suprema; Apascentadora porque é educadora e guia de todos os amigos de seu Filho. Ao contemplar uma efígie sua poderíamos somente dizer: Maria, mater mea – pasce anima mea (Maria, minha mãe – apascenta minha alma). 


Deus quis que Maria participasse de todo o plano de salvação se não ele não teria feito do jeito que tudo correu, pois para nós deve-se ter um olhar todo especial para esta Mãe, tão carinhosa, misericordiosa e cheia de bondade. Com Maria exultemos de alegria porque o verdadeiro amor se encarnou e está no meio de nós para sempre, Ele é o Emanuel.

Maria, mater mea – pasce anima mea!

A NATIVIDADE DE JESUS

                 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós. (Jo 1.14)


Oh! pastores que velais, a guardar vosso rebanho,

Eis que vos nasce um cordeiro,
Filho de Deus soberano!
Irmãos, quem canta aí fora?
São anjos, à luz da aurora.  

Palavra! Que o vi nascido
E a mãe é linda Pastora
Vem pobre, vem desprezado

Tratemos logo de o guardar.
Porque o lobo o há de levar
Sem que o tenhamos gozado.             

Olhem bem, irmãos, é Deus soberano
Este menino tão frágil e inocente.                    

Corramos pois ao seu encontro
E adoremo-lo nos braços
Da linda Pastora
Pois é ela quem no-lo apresenta à salvação

Oh! irmãos, que alegria.       

 Santa Teresa de Jesus


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

NATAL: O grande mistério da Encarnação




Catequese do Papa Bento XVI

Queridos irmãos e irmãs,

Tenho o prazer de acolhê-los nessa Audiência Geral a poucos dias da celebração do Natal do Senhor. A saudação freqüente de todos nesses dias é “Feliz Natal! Boas festas!” Façamos isso de modo que, mesmo na sociedade atual, a troca de saudações não perca seu profundo valor religioso e a festa não seja absorvida por aspectos exteriores, que essas toquem mesmo o coração.
Certamente, os sinais externos são lindos e importantes, desde que não nos desviem, mas devem nos ajudar a ver o Natal no seu sentido verdadeiro, aquele sagrado e cristão, de modo que também a nossa alegria não seja superficial, mas profunda.

Com a Liturgia Natalina, a Igreja nos apresenta o grande Mistério da Encarnação. O Natal, de fato, não é simplesmente o aniversário do nascimento de Jesus, é isso também, mas é mais que isso, é a celebração de um Mistério que marcou e continua a marcar a história do homem: o próprio Deus veio habitar em meio a nós (cfr Jo 1,14), se fez um de nós; um Mistério que afeta nossa fé e nossa existência; um Mistério que vivemos concretamente na Celebração Litúrgica, especialmente na Santa Missa.
Qualquer um poderia se perguntar: como é possível que eu viva agora este evento passado há tanto tempo? Como posso participar ativamente do nascimento do Filho de Deus que aconteceu mais de 2000 anos atrás?

Na Santa Missa da Noite de Natal repetimos, no Salmo Responsorial, estas 
palavras: “Hoje nasceu para nós o Salvador”. Esse advérbio de tempo “hoje” aparece mais vezes nas celebrações natalinas e se refere ao evento do nascimento de Jesus e à salvação que a Encarnação do Filho de Deus traz.

Na Liturgia, tal acontecimento ultrapassa os limites do espaço e do tempo e se torna atual, presente, o seu efeito é contínuo, mesmo com o passar dos dias, dos anos e dos séculos. Indicando que Jesus nasce “hoje”, a Liturgia não usa uma frase sem sentido, mas destaca que este Nascimento investe e permeia toda a história, permanece uma realidade, na qual, também hoje, podemos alcançar justamente na Liturgia.
A nós que acreditamos, a celebração do Natal renova a certeza de que Deus está realmente presente em meio a nós, se fez carne e não está distante, é o próprio Pai que está junto a nós naquele Menino nascido em Belém, se aproximando do homem. Nós podemos encontrá-lo agora, num “hoje” que não acabou.
Gostaria de insistir neste ponto, porque o homem contemporâneo, aquele que é sensível, que experimenta empiricamente, faz sempre dificuldade para abrir o horizonte e entrar no mundo de Deus.

A redenção da humanidade vem num momento preciso e identificado na história: no evento de Jesus de Nazaré, mas Jesus é o Filho de Deus, é o próprio Deus que não somente falou ao homem, lhe mostrou sinais admiráveis e o guiou ao longo da história de salvação, mas se fez homem e permaneceu como homem. O Eterno entrou nos limites do tempo e do espaço, para tornar possível “hoje” o encontro com Ele.
Os textos litúrgicos natalinos nos ajudam a entender que os eventos da salvação operados por Cristo são sempre atuais, interessam a cada homem e a todos os homens.

Quando escutamos ou pronunciamos, na celebração litúrgica, que“hoje nasceu para nós o Salvador” não estamos usando um vaga expressão convencional, mas entendemos que Deus nos oferece “hoje”, agora, a mim, a cada um de nós, a possibilidade de reconhecê-lo e acolhê-lo, como fizeram os pastores em Belém, porque Ele nasceu também na nossa vida e a renova, a ilumina com a Sua graça, com a Sua presença.
O Natal, portanto, comemora o nascimento de Jesus em carne, a partir da Virgem Maria – e inúmeros textos litúrgicos fazem reviver aos nossos olhos este ou aquele episódio – é um evento de sucesso para nós.
O Papa São Leão Magno, falando sobre o sentido profundo da Festa de Natal, disse aos seus fiéis: “Alegremo-nos no Senhor, meus queridos, e abramos nossos corações para a mais pura alegria, porque o dia raiou para nós e isso significa a nova redenção, a antiga promessa, a felicidade eterna. Se renova para nós, realmente, o ciclo anual do alto mistério de nossa salvação, que, prometido no início e no final dos tempos, está destinado a não ter fim” (Sermo 22, In Nativitate Domini, 2,1: PL 54,193).

E São Leão Magno, em outra homilia natalina, afirmou: “Hoje, o autor do mundo foi gerado do ventre de uma virgem: aquele que fez todas as coisas se fez filho de uma mulher que ele mesmo criou. Hoje o Verbo de Deus apareceu revestido de carne e, enquanto jamais foi visível aos olhos humanos, se torna, além de visível, palpável. Hoje os pastores escutaram da voz dos anjos que nasceu o Salvador, na substância do nosso corpo e nossa alma” (Sermo 26, In Nativitate Domini, 6,1: PL 54,213).

Existe um segundo aspecto ao qual gostaria de sublinhar brevemente: o evento de Belém deve ser considerado à luz do Mistério Pascal: um e outro são parte de uma única obra de redenção de Cristo.
A Encarnação e o nascimento de Jesus nos convidam já a voltar o olhar em direção a Sua morte e a Sua ressurreição: o Natal e a Páscoa são do mesmo modo festa de redenção.
A Páscoa é celebrada como vitória sobre o pecado e sobre a morte: marca o momento final quando a glória do Homem Deus resplandece como luz do dia. O Natal celebra a entrada de Deus na história, fazendo-se homem para levar novamente o homem a Deus: marca, por assim dizer, o momento inicial, quando se pode ver a luz da aurora.
Assim como a aurora antecede a luz do dia, o Natal anuncia já a Cruz e a glória da Ressurreição. Também como os dois períodos do ano nos quais acontecem as duas grandes festas, ao menos em algumas partes do mundo, podem ajudar a compreender este aspecto.
De fato, enquanto a Páscoa acontece no início da primavera [no hemisfério norte], quando o sol vence as nuvens e densos nevoeiros e renova a face da terra, o Natal cai justamente no início do inverno, quando a luz e o calor do sol não conseguem acordar a natureza; às vezes faz muito frio e é preciso ficar em baixo das cobertas, mas a vida pulsa e começa de novo a vitória do sol e do calor.
Os Padres da Igreja ligavam sempre o nascimento de Cristo à luz de toda obra de redenção, que encontra seu ápice no Mistério Pascal. A Encarnação do Filho de Deus aparece não só como início e condição da salvação, mas como a própria presença do Mistério da nossa salvação: Deus se faz homem, nasce menino como nós, pega da nossa carne para vencer a morte e o pecado.

Dois textos significativos de São Basílio ilustram isso bem. São Basílio dizia aos fiéis: “Deus assume a carne justamente para destruir a morte escondida nela. Como os antídotos dos venenos uma vez ingeridos anulam seus efeitos, como a escuridão de uma casa se desfaz à luz do sol, assim a morte que dominava a natureza humana foi destruída pela presença de Deus. E como o gelo permanece sólido durante a noite, mas logo derrete ao calor do sol, assim a morte que reinou até a vinda de Cristo, graças ao aparecimento de Deus Salvador, o sol da justiça surgiu, “Tragada a morte na vitória” (1 Cor 15,54), não podendo coexistir com a Vida”(Homilia sobre o nascimento de Cristo 2: PG 31,1461).

E ainda, São Basílio, em outro texto, faz este convite: “Celebremos a salvação do mundo, o natal do gênero humano. Hoje foi apagada a culpa de Adão. Portanto, não podemos mais dizer “és pó e em pó te tornarás” (Gen 3,19), mas unido a Ele que veio do Céu, serás admitido no Céu” (Homilia sobre o nascimento de Cristo, 6: PG 31,1473).
No Natal nós encontramos a ternura e o amor de Deus que está acima de nossos limites, nossas fraquezas, nossos pecados e que se abaixa até nós. São Paulo afirma que Jesus Cristo “sendo ele de condição divina (…) esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7).
Olhamos a gruta de Belém: Deus se abaixa até o ponto de se deitar numa manjedoura, o que já é um prelúdio da hora da paixão. O cume da história de amor entre Deus e o homem acontece entre a manjedoura de Belém e o sepulcro de Jerusalém.
Queridos irmãos e irmãs, vivamos com alegria o Natal que se aproxima. Vivamos este evento maravilhoso: o Filho de Deus nasce ainda “hoje”, Deus está realmente próximo a cada um de nós e quer nos encontrar, quer nos levar a Ele. Ele é a verdadeira luz que remove e dissolve as trevas que envolvem nossa vida e a vida da humanidade.

Vivamos o Natal do Senhor contemplando o caminho do amor imenso de Deus que nos eleva a Ele por meio do Mistério da Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Seu Filho, pois – como afirma Santo Agostinho – “em [Cristo] a divindade do Unigênito participa da nossa mortalidade, a fim que nós possamos participar de Sua imortalidade” (Epistola 187,6,20: PL 33,839-840).
Sobretudo, contemplemos e vivamos este Mistério na celebração da Eucaristia, centro do Santo Natal; ali está presente de maneira real Jesus, verdadeiro Pão que desceu do Céu, verdadeiro Cordeiro sacrificado para nossa salvação.

Desejo a todos vocês e as vossas famílias uma celebração de Natal realmente cristã, de modo que também todas as felicitações deste dia sejam expressões da alegria por saber que Deus está próximo a nós e quer percorrer conosco o caminho da vida. Obrigado.


                                                                                                         Fonte: Boletim da sala de Imprensa da Santa Sé.


O BOM PASTOR



Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas, isto é, eu as amo, e minhas ovelhas me conhecem (Jo 10,14) é como se quisesse dizer francamente: elas correspondem ao amor daquele que as ama. Quem não ama a verdade, é porque ainda não conhece perfeitamente.
Depois de terdes ouvido, irmãos caríssimos, qual é o perigo que corremos, considerai também, por estas palavras do Senhor, o perigo que vós também correis. Vede se sois suas ovelhas, vede se o conheceis, vede se conheceis a luz da verdade. Se o conheceis, quero dizer, não só pela fé, mas também pelo amor, o conheceis não só pelo que credes, mas também pelas obras. O mesmo evangelista João, de quem são estas palavras, afirma ainda: quem diz: “eu conheço Deus”, mas não guarda seus mandamentos, é mentiroso (1 Jo 2,4).
Por isso, nesta passagem do Evangelho, o Senhor acrescenta imediatamente: assim como o Pai me conhece, eu também conheço o Pai e dou minha vida por minhas ovelhas (Jo 10,15). Como se dissesse explicitamente: a prova de que eu conheço o Pai e sou por ele conhecido, é que dou minha vida por minhas ovelhas; por outras palavras, este amor que me leva a morrer por minhas ovelhas, mostra o quanto eu amo o Pai.
Continuando a falar de suas ovelhas, diz ainda: Minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna (Jo 10,27-28). É a respeito delas que fala um pouco acima: quem entra por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem (Jo 10,9). Entrará, efetivamente, abrindo-se à fé; sairá passando da fé à visão e à contemplação, e encontrará pastagem no banquete eterno.
Suas ovelhas encontraram pastagem, pois todo aquele que o segue na simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes.  Quais são afinal sãs pastagens dessas ovelhas, se não as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida.
Procuremos, portanto, irmãos caríssimos, alcançar essas pastagens, onde nos alegremos na companhia dos cidadãos do céu. Que a própria alegria dos bem-aventurados nos estimule. Corações ao alto meus irmãos! Que a nossa fé se afervore nas verdades em que acreditamos, inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é pôr-se a caminho.
Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior. Se alguém, com efeito, pretende chegar a um determinado lugar, não há obstáculo algum no caminho que o faça desistir de chegar a onde deseja. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim.

Das homilias sobre os Evangelhos, São Gregório Magno, PP.
(Hom.14,3-6; PL 76, 1129-1130) (Séc. VI)