segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

DIA DE SÃO FRANCISCO DE SALES

Patrono dos Pastoristas


CONTEXTO HISTÓRICO

Nosso contexto histórico de hoje vai de 1567 a 1622. antiga região do norte de Itália passada à França um dos baluartes católicos da Contra-Reforma. A região engloba terras da atual Itália e França: região de Sabóia, Genebra e Lion. 

A Casa de Sabóia, ou Casa de Savóia, foi uma dinastia de nobres em uma pequena região entre Piemonte, Itália e a França. Os Sabóia começaram no século XI, como proprietários de um condado. Em 1416 tornaram-se os duques de Sabóia. Em 1720, Vitor Amadeu II, que era o duque de Sabóia, se tornou rei da Sardenha. Seu descendente, Vitor Emanual II, se tornou o primeiro rei da Itália unificada, em 1861. 
Os Duques de Sabóia foram os proprietários do Santo Sudário entre 1453 e 1983. 
Nesse contexto de poder e de disputas com os calvinistas nasceu nosso santo de hoje, São Francisco de Sales.


O SANTO

Francisco foi o primeiro dos treze filhos dos barões de Boisy. Ele nasceu em 21 de agosto de 1567, no castelo de Sales, na Sabóia. Sua família era devota de São Francisco de Assis e, por essa razão, o primeiro filho recebeu o nome de Francisco. 
Sua mãe sempre se preocupou com a educação dos filhos, dando um preceptor para cada um deles. O de Francisco foi o padre Deage, que o acompanhou até sua morte. Esteve com ele em Paris, onde o jovem barão fez os estudos universitários no Colégio dos Jesuítas de Clermont. A Universidade de Paris, na época, contava com 54 faculdades e era um dos grandes centros de estudos. Foi onde ele recebeu formação literária e religiosa aprimorada, tendo se tornado devoto de Nossa Senhora. 

Francisco estudou retórica, filosofia e teologia, base que fez dele o grande teólogo, pregador, polemista e diretor espiritual que caracterizaram seu trabalho apostólico. Por ser o herdeiro direto do nome e da tradição da família, recebeu também lições de esgrima, dança e equitação, para complementar sua já apurada formação. Mas se sentia chamado para servir inteiramente a Deus, por isso fez voto de castidade e se colocou sob a proteção da Virgem Maria. Completados seus estudos em Paris, ele seguiu para Pádua, onde se formou em direito, na Universidade de Pádua, Itália, em 1591. 

Com 24 anos de idade, sua família já lhe havia escolhido uma jovem nobre e rica herdeira para noiva e conseguido um cargo de membro do Senado saboiano. Ele recusou tudo isso. Seu pai soube, então, do seu desejo de ser sacerdote, através do tio, cônego da catedral de Genebra, com quem Francisco havia conversado antes. Dois anos depois o jesuita Francisco recebeu a ordenação sacerdotal, em 18 de dezembro de 1593.

 Atuou inicialmente como missionário em Chablais, em sua região natal, de 1593 a 1597. Em 1599, foi nomeado Bispo auxiliar de Genebra. Três anos depois, em 1602, foi sagrado bispo de Genebra. Seu campo de ação aumentou muito. Assim, Dom Francisco de Sales fundou escolas, ensinou catecismo às crianças e adultos. Em 1612 fundou, com Santa Joana de Chantal, a Ordem da Visitação, que tinha por finalidade cuidar de doentes e do ensino. Pregando uma moral de sereno equilíbrio e de tolerância, adquiriu prestígio nos meios intelectuais de Paris. 

Todos queriam ouvir a palavra do Bispo, que era convidado a pregar em toda parte. Até a família real da Sabóia não resistia ao Bispo de Genebra, que era sempre convidado para pregar também na Corte. 


Publicou o livro que se tornou célebre: "Introdução à vida devota". Francisco de Sales também escreveu para suas Filhas da Visitação, o célebre "Tratado do Amor de Deus", onde desenvolveu o lema: "a medida de amar a Deus é amá-lo sem medida". Os contemporâneos de Francisco não tinham dúvidas sobre sua santidade, dentre eles Santa Joana de Chantal e São Vicente de Paulo, dos quais foi diretor espiritual.

 Francisco morreu em Lyon, França, com 55 anos de idade, no dia 28 de dezembro de 1622. Sua beatificação, em 1661, foi a primeira a ocorrer na basílica de São Pedro em Roma. Foi canonizado quatro anos depois. Pio IX declarou-o Doutor da Igreja e Pio XI proclamou-o o Padroeiro dos jornalistas e dos escritores católicos. Dom Bosco admirava tanto São Francisco de Sales que deu o nome de Congregação Salesiana à Obra que fundou para a educação dos jovens. Ele é celebrado no dia 24 de janeiro porque neste dia, do ano de 1623, as suas relíquias mortais foram trasladadas para a sepultura definitiva em Anneci.




ILUMINAÇÃO BÍBLICA EM NOSSA VIDA

“Se erro, prefiro que seja por excesso de bondade do que por demasiado rigor.” Nessa afirmação está o segredo da simpatia que são Francisco desfrutava entre os seus contemporâneos.

Ele aprendeu com Jesus, quando ele disse em Mateus 11, 28-29: "Vinde a mim vós todos, que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas." 

Assim São Vicente de Paulo se referiu a São Francisco de Sales : "Este servo de Deus conformou-se tão bem com o modelo divino, que muitas vezes me pergunto com admiração como uma criatura, dada a fragilidade da natureza humana, pôde alcançar tão elevado grau de perfeição ... Sou levado a ver nele o homem que, dentre todos, mais fielmente reproduziu o amor do Filho de Deus sobre a terra". 

Aprendamos com São Francisco de Sales as virtudes da paciência e da tolerância. Meditemos sobre as palavras de Jesus, que nos convida a viver mansos e humildes como ele.



ORAÇÃO

Prudentíssimo São Francisco de Sales, que de todas as criaturas fazíeis um degrau para subir a Deus, utilizando delas unicamente o resplendor da bondade divina, considerando sempre a causa primeira e jamais as causas segundas; ó Vós que conservastes imperturbáveis a divina presença, a qual em vós despertava um amor continuo ao Sumo Bem; alcançai-nos do Coração de Jesus a mesma luz que vos iluminava, afim de que tendo sempre a Deus presente, como vós O tínheis, O amemos como O amáveis e alcançai-nos também a graça que desejamos. Amém.


LADAINHA



Senhor tende piedade de nós.
Cristo tende piedade de nós.
Senhor tende piedade de nós.

São Francisco, amado por Deus                                                         Rogai por nós!
São Francisco, amante de Deus
São Francisco, imitador de Jesus Cristo
São Francisco, amante da Cruz
São Francisco, companheiro dos Santos
São Francisco, imitador dos Apóstolos
São Francisco, glória dos confessores
São Francisco, luz da Igreja
São Francisco, fundador da Ordem da Visitação
São Francisco, bom Pastor
São Francisco, mestre da fé
São Francisco, patrono da devoção
São Francisco, insigne pregador
São Francisco, grade missionário
São Francisco, gentil confessor
São Francisco, diretor espiritual
São Francisco, patrono dos surdos
São Francisco, sal da Terra
São Francisco, modelo de humildade
São Francisco, modelo de gentileza
São Francisco, forte reformador
São Francisco, companheiro e Guia
São Francisco, amante da beleza
São Francisco, admirável bispo
São Francisco conquistador das paixões,
São Francisco unido à Divina Vontade,
São Francisco, filho fiel da Virgem Maria
São Francisco, modelo perfeito de religioso
São Francisco, apoio misericordioso para os penitentes,
São Francisco, refúgio dos pecadores,
São Francisco, providência do pobre,
São Francisco, consolador dos afligidos,
São Francisco, exemplo de perfeição,
São Francisco, arca da santidade,
São Francisco, imitador da pureza dos Anjos,
São Francisco, querubim da sabedoria,
São Francisco, Serafim do amor,
São Francisco, nosso guia pelos caminhos de Deus,

V. Rogai por nós, São Francisco de Sales,
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.


Oremos

Amoroso Deus, Tu deste a São Francisco de Sales um espírito de compaixão, permitindo-lhe que se fizesse amigo de todos através do caminho da salvação. Por sua intercessão e exemplo, ajuda-nos a imitar sua humildade sua mansa gentileza e seu apaixonado amor no serviço de nossos irmãos.  Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho na Unidade do Espírito Santo. Amém.








sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MENSAGEM DE PERFEIÇÃO SACERDOTAL NOS ESCRITOS E FIGURA DE SÃO FRANCISCO DE SALES

Félix Álvarez Herrera
Las grandes escuelas de espiritualidad en relación con el sacerdocio




O QUE NOS ENSINA COMO SANTO

 Nota comum de todos os padres e doutores da Igreja, porém que em São Francisco de Sales tem relevo singular é a harmonia perfeita entre sua vida e sua doutrina. Sua doutrina, em efeito, não parece ser senão o esplendor de sua vida, e esta não parece ter outra razão de ser senão a de dá objetividade ao seu ensinamento. Examinemos este ponto mais em concreto.

Comumente assinalam os autores como traços característicos na fisionomia espiritual de São Francisco de Sales:

Seu santo otimismo, sua ilimitada confiança em Deus, sua humildade, sua simplicidade, sua doçura, seu zelo pastoral, expressões que tem relação com a viva fé e acendrada caridade de onde as procede.

O santo otimismo que mantém São Francisco de Sales em paz imperturbável em meio da atividade difícil de sua vida apostólica, nasce de sua vivíssima fé no amor com que Deus tem amado os homens, amor misericordioso, sempre disposto a perdoar, a reabilitar o pecador arrependido, a acalmar-lo tão generosamente com suas dádivas, que muitas vezes o favorecido se ver obrigado a proclamar feliz a culpa que tem sido ocasião de tão grande misericórdia.

Certamente, todos os atributos divinos são adoráveis, sua sabedoria, sua onipotência, sua soberania, sua majestade, sua justiça, que por todos eles se louve o Senhor; porém entre todas estas grandezas ou aspectos da mesma infinita grandeza, a graça mesma inclina os sujeitos a considerar e reverenciar determinadamente algum ou alguns destes atributos.
A contemplação de São Francisco de Sales se fixa de preferência na divina Bondade, no amor infinito, e este amor o ver compendiado todo, conforme a definição sublime que dá de Deus o apóstolo São João: “Deus é amor...”: Deus caritas est.[1].

Sobre este conceito fundamental descansa toda a teologia deste santo Doutor: esta será a base e tema constante de sua pregação e de seu ensinamento escrito, que bem pudera compendiar-se nesta frase do mesmo São João: “Amemos a Deus, porque Ele nos amou primeiro” [2].

Por isso os erros que vem contra esta verdade fundamental da fé cristã (pessimismo luterano, sombria predestinação calvinista, jansenismo) desconcertam notoriamente este providencial arauto da caridade e do amor que é São Francisco de Sales que parece ferir-lo de morte. Recordemos da crise tremenda, sem dúvida a maior de sua vida, que estas asseverações pessimistas causaram nele, até pôr em grave perigo sua saúde e sua vida; recordemos também da paz e alegria que o inundaram ao receber, prostrado diante de uma histórica imagem da Santíssima Virgem, a grande luz sobre o Deus de amor e seus desígnios de misericórdia, radiante luz que num momento dissipa suas dúvidas pavorosas e que adiante o acompanha sempre em sua vida interior, nas obras que empreende e nos luminosos escritos com que anuncia e difunde por todas as partes, tão consoladora doutrina.

E, claro está, se se trata de um Deus que em excesso de amor se entrega aos homens na Encarnação, na Eucaristia, na Cruz; se os desígnios deste Deus de amor não são desígnios de morte, senão de misericórdia e de vida; se este Deus nos há criado como Pai a uma vida divina, convertendo-nos em seus filhos e herdeiros; se sua inesgotável liberdade oferece a todos os homens copiosos auxílios que fazem não só possível, senão fácil e amável o caminho da salvação; se, finalmente, não nos deixa de alertar-nos com promessas esplêndidas de compartilhar com nós na sua glória sua felicidade e sua vida, com tal que a terra que saibamos comportar nos como bons filhos seus, muito justo é, muito lógico e natural, que o homem corresponda a esta atitude tão nobre e divina convertendo em amor a Deus sua vida inteira.

Neste plano magnífico que se desenrola diante de nossos olhos a Revelação de ambos os Testamentos, se compreende muito bem que uma viva fé e a filial atitude que a ela segue eliminem de raiz todo pessimismo e estabeleçam ao crente fervoroso no otimismo, na confiança e na paz.

As outras características da espiritualidade de São Francisco de Sales, a saber:


A confiança em Deus, revelado aos homens como “Pai das misericórdias e Deus de toda consolação”; a humildade de coração como única atitude que convém a nossa pequenez e a infância espiritual em que nos constitui a graça; a simplicidade que afasta as complicações e vãs aparências, e simplifica o caminho para ir a Deus reduzindo-o a unidade do amor, do verdadeiro amor provado na união das vontades; a alegria no serviço divino, a amabilidade no trato, a sociabilidade cristã, a doçura de caráter e as outras pequenas virtudes que tanto recomenda o Santo doutor em seus escritos, depois de haver-las recomendado com o constante exemplo de sua vida, todas estas pequenas ou grandes virtudes, em seu conceito e prática cristã, são flores e frutos de um talo comum: a divina caridade, talo fecundo que por ela circulam as seivas amargas do próprio vencimento, do esforço generoso e da superação de nós mesmos num ímpeto perseverante de ascensão no caminho de Cristo.

Cada uma destas características, cada uma destas virtudes, na forma em que São Francisco de Sales as praticou e segundo aparecem tão finamente descritas em seus livros, bastaria por si só para identificar a tão amável santo; porém, se se quer um retrato completo dele, precisa recordar a forma concreta como realizou ao longo de sua vida como ideal elevado.
Essa forma concreta foi precisamente a de pastor de almas. 

Segundo Santo Tomás de Aquino[3], o estado de maior perfeição que existe na Igreja é o de pastor de almas, plenamente realizado nos bispos por razão de sua consagração ao apostolado. E, efetivamente, segundo a palavra de Cristo, só será bom pastor o que estive disposto a dar a sua vida pelas ovelhas[4], é dizer, o que possui em seu espírito a caridade heróica e, pela mesma, a perfeição. “A caridade incipiente – disse Santo Agostinho – é uma santidade adiantada; uma grande caridade é uma santidade, e uma caridade perfeita é uma perfeita santidade[5]”.

São Francisco de Sales praticou como sacerdote, como missionário e como bispo aquele amor de Deus e as almas, que tanto o exalta em seus escritos. Sua vida esteve totalmente consagrada ao rebanho de Cristo. Marchou sempre diante de suas ovelhas, precedendo-as não só por razão de sua autoridade e oficio, senão pela excelência de suas virtudes e o atrativo irresistível de seus exemplos. Seus escritos eminentemente pastorais, e suas inumeráveis cartas (mais de 20.000), de prudente governo e de direção espiritual a maior parte delas, deixa ver ao leitor até que ponto era conhecido aquele pastor que conhecia as suas ovelhas e até que ponto era por elas conhecido, amado, venerado e obedecido. A solicitude apostólica com que a cada uma delas atendia se deixa naquele depoimento seu, ao que não falta certo gracejo peculiar no Santo: “Uma só alma seria uma diocese bastante para um bispo”.

A parte visível da tarefa realizada por ele pode calcular-se pela magnitude dos resultados obtidos, entre outros a conversão de 70.000 calvinistas fanáticos na região dos Chablais, recuperada para a Igreja por seu zelo missionário; porém o conjunto do trabalho que levou a cabo durante toda a sua vida e que através de seus escritos há continuado depois de sua morte, é simplesmente incalculável, não somente por sua profundidade em tantas almas que receberam sua direção ou estiveram sob sua influência, senão também por sua extensão, que já, em vida do Santo e mais ainda depois de sua morte, tem alcançado em vários aspectos e dimensões ecumênicas.
Jamais retrocedeu diante dos perigos, ameaças e dificuldades de todo gênero que os impusera, e durante seus anos de missionário nos Clablais chegaram ao extremo, atentaram contra sua vida, senão que a tudo se enfrentou com ânimo valente, com serenidade imperturbável, com caridade heróica, preferindo pôr-se ao alcance do lobo devorador antes que abandonar a ver destroçadas suas ovelhas.

Em uma palavra, São Francisco de Sales foi uma imagem do Bom Pastor, Jesus Cristo, e por isso não é estranho que havia despertado entre os que o conheceram a fundo e o trataram de perto, uma admiração e veneração extraordinárias, princípio do culto que pronto havia de tributar-lhe a Igreja.

Um trabalho necessariamente breve como o presente não pode conter a abundância de testemunhos e documentos com que se podia provar cada um destes acertos, em particular o último, e assim nos contentaremos em transcrever o valioso testemunho de um grande santo que intimamente travou diálogos e que compartilhou em grande medida seu espírito, São Vicente de Paulo, do qual são as seguintes palavras: “Tive a honra de gozar da intimidade de Dom Francisco de Sales. O fervor deste servo de Deus resplandecia em suas íntimas conversações; os que gozavam delas ficavam pendentes de seus lábios. Repassando suas palavras em espírito, sentia tal admiração por elas, que me via inclinado a considerá-lo como o homem que melhor havia reproduzido o Filho de Deus vivendo na terra”[6].


SUAVITER ET FORTITER

Em São Francisco de Sales, doutor e modelo de perfeição cristã, brilha singularmente a FORTALEZA em todos os aspectos mencionados. Digo singularmente, porque a fortaleza tem nele o modo e os suaves matizes do acabado e perfeito: a SERENIDADE, que é a tranqüilidade estável na ordem interior; a DOÇURA, que é a demonstração externa do domínio pelo de si mesmo; a SIMPLICIDADE, que em seu sentido mais alto, é a simplificação no amor; a BONDADE, que é a flor da preciosa caridade e luminosa transparência do reinado da mesma no coração do Santo.

TRADUÇÃO: Seminarista Darlan dos Santos



[1] 1 Jo 4,16
[2] 1 Jo 4,19
[3] ST II-II, q. 184, a. 6
[4] Jo 10,11
[5] Santo Agostinho, De natura et gratia, cap. 70, n.84
[6] P. Coste, S. Vicent de Paul, t, I, p. 158


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

EFICACIA DA PACIÊNCIA

Santa Teresa de Jesus




Nada te perturbe,
Nada te espante,
Tudo passa,
Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem nada lhe falta: 
Só Deus basta.


Eleva o pensamento,
Ao céu sobe,
Por nada te angusties,
NADA TE PERTURBE.

A Jesus Cristo segue
Com peito grande,
E, venha o que vier,
NADA TE ESPANTE.

Vês a glória do mundo?
É glória vã;
Nada tem de estável,
TUDO PASSA.

Aspira às coisas celestes,
Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas,
DEUS NÃO MUDA.

Ama-O como merece,
Bondade imensa;
Mas não há amor fino
SEM A PACIÊNCIA.

Confiança e fé viva
Mantenha a alma,
Quem crê e espera
TUDO ALCANÇA.

Do inferno acossado
Muito embora se veja,
burlará os seus furores
QUEM A DEUS TEM.

Advenham-lhe desamparados,
Cruzes, desgraças;
Sendo Deus o seu tesouro,
NADA LHE FALTA.

Ide, pois, bens do mundo,
Ide, ditas vãs;
Ainda que tudo perca,
SÓ DEUS BASTA.


JHS

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

B. Mariae Virginis DIVINI PASTORIS MATRIS


Pio VI, em 1º de agosto de 1795, instituiu canonicamente a festa em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe do Divino Pastor. Foi o Beato Diego José de Cádiz um dos que mais trabalhou em excesso por obter o referendo pontifício em favor da Divina Pastora, que presidia suas missões populares. O papa concedeu aos Frades Capuchinos da Espanha que pudessem venerar como singular Patrona de suas missões à Mãe do Bom Pastor, Jesus Cristo, poderosa mediadora entre ele e nós, seu povo e ovelhas de seu rebanho.




Deixa-me ver tua face, deixa-me escutar tua voz, porque é muito doce e bela tua face.  

A origem da invocação Maria, Mãe do Bom Pastor ou Divina Pastora foi dada a conhecer na Igreja pelo religioso capuchinho Frei Isidoro de Servilha OFM (Espanha). Frei Isidoro certa noite do dia 31 de maio, não se sabe, se uma inspiração, um sonho misterioso ou até mesmo uma aparição. Estava ele rezando a Maria, de repente, uma luz extraordinária iluminou a capela, e no meio, apareceu a Santíssima Virgem vestida de pastora, rodeada de ovelhas e então ela disse: “Eu sou a divina pastora das almas. Queres que os homens cumpram os mandamentos do meu Filho? Pede, pois, aos missionários que confiem aos meus cuidados os seus rebanhos e lhes asseguro que os pecadores, mesmo os mais endurecidos, voltarão a mim, dóceis e mansos como ovelhas”.

Ao amanhecer Frei Isidoro confiou ao pintor Alonso Tavar a execução de um quadro com as seguintes características: “No centro, pintarás a Santíssima Virgem Maria à sombra de uma arvore, sentada sobre uma pedra, irradiando um semblante de amor e ternura; a túnica vermelha será coberta por um manto branco aos joelhos, amarrado a cintura um manto azul cobrirá o ombro esquerdo, terá um chapéu pastoril e na mão direita o cajado, símbolo da misericórdia com que defende o seu rebanho. Algumas ovelhas rodearão a Virgem Maria, ao longe se vê uma ovelha perdida e um lobo saindo da caverna, pronto a devorá-la. Aparece no céu o arcanjo São Miguel com o escudo pronto para desfechá-lo sobre o lobo maldito. Todo traje é de uma humilde pastora, porém seu corpo parece formoso e elegante, assemelhando-se a descrição do cântico dos cânticos”.


Hino

Aclamamos-te por Mãe e Senhora
Tu és causa da nossa alegria;
Nossa Rainha, a corredentora.
Que quis mostrar-se Pastora
Oh! Humílima Virgem Maria!

Trocaste o augusto diadema
Por um simples chapéu com flores,
Papoulas e espigas sua gema
É um cajado humilde teu emblema
De Pastora entre tantos pastores.

Qual ninguém conheces a fonte
Manancial de águas tranquilas
À sombra do Onipotente
Não há ovelha que não se apascente
Quando Tu, qual Pastora, vigias.

Quão feliz é contigo o rebanho!
Recosta-o em verdes pradarias
O conduz com alegria e sem dano
Defende-o do mal e do engano,
E em guardar do lobo te esforçarias.

Quem a Ti se confiou não falha
Ao cruzar as gargantas escuras,
Protege-o em toda batalha,
Tu és luz, escudo e muralha.
Acha-lhe pasto nas penas mais duras.

Glória Àquele que a quis tão bela!
Glória ao Filho, sua sorte e seu encanto.
- Astro Rei que nasceu de uma estrela-
Pela obra que Ele fez nela,
Glória seja ao Espírito Santo.


Maria Mãe do Bom Pastor!
Rogai por nós


sábado, 7 de janeiro de 2012

O SACERDOTE E MARIA

Edvaldo Pinho
Seminário Maria Mater Ecclesiae


O sacerdote, configurado ao Único Sacerdócio Santo, o de Cristo, da descendência de Melquisedeque, nascido em Nazaré, particularmente uma manjedoura, tem seu auge na medida em que se assemelha à vida da Virgem Maria; a única mulher que pode ser comparada, na prática das virtudes, com o seu Filho. No que diz respeito à vida de um sacerdote católico, Maria é a vida-modelo para de sua santificação.

Na carta Encíclica, Rosarium Virginis Mariae, o papa nos chama a atenção para contemplarmos Cristo com o olhar e o coração de Maria, uma vez que o sacerdote é Alter Christus, ou seja, é outro e mesmo Cristo; e é convidado a ser pai e mãe de uma comunidade de batizados como assim o próprio Cristo foi. Assim, a relação de Mãe e Filho, é a relação de Mãe e sacerdote.
São inúmeros os títulos que podemos comparar Maria e o Sacerdote. Encontraremos alguns deles na Bíblia como:

O sacerdote é o homem do Anúncio. Assim como Maria anunciou a chegada do seu Filho a sua prima Isabel (cf. Lc 1, 41), o sacerdote deve ser aquele que anuncia este mesmo Cristo que vem.

O sacerdote é o homem de silêncio. Se olharmos no Evangelho de Lucas, encontraremos Maria exercendo aquilo que de mais compraz ao seu filho. Mesmo não sabendo do que estava acontecendo, Ela confiava nas ações de Deus e guardava tudo em seu coração (cf. Lc 2, 51). Muitas das vezes o sacerdote deve também fazer como Maria: não entendendo sua própria missão, deve guardar tudo em seu coração e orar a Deus.

O sacerdote é o homem de oração. Numa carta recente aos sacerdotes, o papa Bento XVI exorte que o sacerdote sem oração é um sacerdote em perigo. Nos Atos dos Apóstolos encontramos várias pessoas em oração, dentre elas, Maria, Mãe de Jesus (cf. At 1, 14). Se ela orou, como o sacerdote pode deixar de fazer o mesmo?

O sacerdote deve ser humilde como exclamou Maria no Magnificat: “... porque olhou para a humildade de sua serva...”. E, em sua humildade, o sacerdote se torna mais servo de Deus.


 São inúmeros os títulos marianos citados na Bíblia, sem mencionar os de devoção popular, que podem ser aplicados ao sacerdote católico. Além do mais, ele é o cristão mais amado de Nossa Senhora, pois, como diz Dom Rafael Cifuentes, “Maria trouxe o Cristo uma vez, o sacerdote O traz em todas as missas”.



JHS



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SEMANA NAS SAGRADAS CHAGAS

São Francisco de Sales



Por suas chagas nós fomos curados (1Pd 2.24)


Entrai cada dia da semana numa das Chagas Sagradas do vosso amoroso Salvador:

No domingo, entrai nas chagas do Lado;

Na segunda-feira, na chaga do pé esquerdo;

Na terça-feira, na chaga do pé direito;

Na quarta-feira, na chaga da mão esquerda;

Na quinta-feira, na chaga da mão direita;

Na sexta-feira, nas cicatrizes da sua adorável cabeça;

No sábado, voltai ao lado sagrado, a fim de por ele começardes e acabardes a semana.



V+J

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ORANDO E MEDITANDO COM SANTA TERESA DE JESUS



Darlan Santos
Seminário Maria Mater Ecclesiae


Que profundidade espiritual alcançou Santa Teresa de Jesus, a tal ponto de expressar em poucas palavras, uma grande realidade que todos os homens almejam: a Paz. Certamente a paz que o mundo oferece não é a mesma de Cristo, pois esta é uma paz que exclui os problemas e a de Cristo vem acompanhada da Cruz, não exclui as dificuldades, os problemas cotidianos da vida. A paz que vem de Deus é a experiência de seu amor eterno e misericordioso. Vamos meditar cada frase desta máxima de Santa Teresa em forma de diálogo com Deus, nosso Bom Pai.

Nada te perturbe,
Senhor, meu Pai e meu amigo, tu me criaste para viver junto de ti em paz contigo e com todos os que estão ao meu redor; é verdade que as ações deste mundo têm tirado minha paz, me tem feito ter medo de tudo. Agora eu me lanço em teus braços numa atitude de abandono e poder escutar do teu coração paternal: Nada te perturbe pois eu estou contigo todos os dias, todos os momentos e todos os acontecimentos. Que nada me perturbe meu amado Pai e nada me afaste do teu olhar misericordioso.

Nada te espante,
O espanto algumas vezes me quer levar para outros caminhos, meu Senhor. O espanto é assustador e me faz afastar-me da verdadeira felicidade, que estar junto do teu coração de Pai. Desejo hoje e sempre não me afastar da tua presença paciente e rica de amor e bondade. Que cada dia e cada noite eu escute de ti: Nada te espante, pois eu estou aqui para te defender de todos os perigos e de todos os assombros do mal. Creio profundamente na tua presença protetora, que sempre me defenderá de todas as ciladas do inimigo da minha alma. Porque me espantar se Tu estás comigo, tranquiliza-te oh minha pobre alma, pois o Senhor está ao teu lado.

Tudo passa,
Senhor, tudo nesta vida passa, menos a tua palavra e o teu amor por mim que sou teu pequeno filho. As coisas desta vida, a vaidade, a moda e até mesmo as pessoas passam, mas o teu amor misericordioso nunca passará, pois é imutável e as coisas são mutáveis. Tu meu Pai não está limitado a nada nesta terra. Dai-me meu Pai a graça da compreensão de que não vale a pena depositar minha confiança naquilo que passa, mas somente em Ti que é o eterno e imutável. Perdoa-me meu amabilíssimo Pai por todas as vezes que acreditei nas coisas e nas pessoas, mais quem em Ti, perdão pela minha falta de confiança, agora quero crer que tudo passa.

Deus não muda,
Que alegria ao meu coração em saber que Tu Senhor não muda, e que Tu és como Jesus transmitiu: rico em misericórdia. Que alegria saber que teus mandamentos são eternos e que só tendem a minha santificação e salvação. Ó meu boníssimo Pai, inflamai meu coração desta certeza da tua imutabilidade, da tua onipresença e da tua onipotência. Reconheço que tantas e tantas vezes tenho sido inconstante diante do teu amor, tão infiel e tão frágil, mas Tu eu sempre o senti tão fiel, tão verdadeiro, tão misericordioso e tão bom; dai-me Senhor esta permanência no amor, a fidelidade que nunca muda para que eu não vacile na fé no teu aconchego paternal.

A paciência tudo alcança;
Oh paciência bendita que Jesus tanto amou na sua Paixão, oh virtude dos santos, oh escola de santidade. A paciência significa: ciência do sofrimento. Meu Pai quem teve mais paciência comigo do que Tu, quando cai, quando me afastei de Ti como a ovelha foge do seu pastor. Quem teve mais paciência nesta terra com a miséria humana do que Tu, meu misericordioso Pai; como é grande tua paciência comigo. Se não fosse tua paciência eu já estaria perdido e afastado completamente do teu coração. Dai-me a graça de ser paciente para alcançar de Ti e para compreender tua divina vontade, dai-me paciência comigo mesmo e com todas as realidade que a vida me prepara, dai-me paciência na dor e nas cruzes que Tu me enviares. Senhor fazei-me paciente para alcançar a Ti.

Quem a Deus tem nada falta:
Muitas vezes tenho andando a busca de sentido para minha existência, buscava na coisas, em mim mesmo, nas instituições e na pessoas, isso só me deu vazio; mas creio que um dia te encontrei dentro de mim mesmo. Tu habitas o meu coração e é isso que dar sentido a minha existência, é a tua presença amorosa, porque Tu és amor. Nada nesta vida pode me faltar se tenho a Ti, nada pode me fazer vacilar porque Tu és o porto seguro onde posso encontrar força para me sustentar. Ter a Ti é superior a ter qualquer coisa deste mundo, tu és superior a tudo o que tu criaste, por isso escolher a Ti é ter tudo para nada faltar. Nada me falta Senhor, pois Tu estás comigo e em mim.

 Só Deus basta.
Deus do meu coração, misericórdia sem fim, bondade infinita, paciência eterna, Tu me basta porque Tu és tudo e se tenho a Ti tenho tudo para ser feliz e ser santo. Selai em meu coração mutável este profundo desejo de gritar para o mundo que só Tu me basta, que só Tu és o caminho a verdade e a vida. És o meu criador e somente a Ti devo amar, adorar, glorificar e louvar. Que minha alma exclame sem hesitação nenhuma: Só Deus basta! Porque como dizia São Francisco de Sales: “Que a Deus não basta, nada basta”. Tu me basta!



JHS



terça-feira, 3 de janeiro de 2012

TUA CRUZ

São Francisco de Sales



A Sabedoria Eterna de Deus, desde o princípio, previu a Cruz que Ele te envia do fundo do seu coração, como um presente precioso! 

Antes de enviá-la a ti, Ele contemplou-a com seus olhos oniscientes! 
Meditou-a com seu divino intelecto!

Examinou-a à luz da sua sábia justiça! – Deu-lhe calor, apertando-a nos seus braços carinhosos! – Suspendeu-a com as duas mãos, talvez não fosse de um milímetro demasiado longa ou de um miligrama demasiado pesada!

Depois abençôo-a no seu Santíssimo Nome, cobriu-a do bálsamo da sua graça e do perfume da sua consolação! Enfim, ainda olhou para ti; confiou na tua coragem...

Por isso é que a cruz vem a ti do céu, como uma visitação do Senhor! Como uma esmola do seu amor misericordioso!


domingo, 1 de janeiro de 2012

O SACERDOTE E O AMOR

São José Cafasso


Nascemos para amar, vivemos para amar, morremos para ama ainda mais. É este, irmãos, nosso fim aqui na terra; este será, assim esperamos, o nosso destino futuro eterno. “Feliz daquele – diz Santo Agostinho – que aprendeu esta ciência o amor”. “O senhor é que é feliz! – dizia um bom leigo o grande doutor São Boaventura – feliz é o senhor que aprendeu e conhece tanta coisa!” – “Ah, meu filho – respondeu o santo – não tenha inveja da minha ciência; uma velhinha que sabe amar a Deus, sabe tanto quanto frei Boaventura...”

Esta resposta, que causou maravilha e admiração naquela alma simples, pode fornecer-nos a matéria para reflexão e confusão. Às vezes pensamos que conhecemos alguma coisa neste mundo; e, depois de tantos anos de estudo, parece-nos quase um insulto ter que tratar com certas pessoas rudes e ignorantes; contudo, se elas amam a Deus, sabem fazê-lo tão bem quanto nós, e, às vezes, melhor do que nós.

Existem, às vezes entre estas pessoas, corações muito zelosos, cheios de amor, enquanto os nossos, com tanta ciência, estão frios e gelados. E que vale toda a nossa ciência, se nos falta a primeira e principal, que é saber amar a Deus? Grande tesouro é para uma família, para uma cidade, um sacerdote que saiba amar, que viva e arda de caridade! Quanto bem se poderá esperar do exercício do seu ministério!

“Oh! Como é agradável! – dizia Santo Agostinho – falar de amor! Mas, é muito mais agradável praticá-lo!”.

Ah! Queira Deus que, inflamados hoje deste fogo celeste, começássemos aqui na terra, neste vale de lágrimas, o caminho de amor que, espero, um dia, será meu e vosso para sempre no céu!