sexta-feira, 14 de março de 2014

NATUREZA DAS TENTAÇÕES

São Francisco de Sales


Imagina uma jovem princesa extremamente amada por seu esposo e que um jovem libertino pretende corromper e seduzir à infidelidade, por meio de um confidente que lhe envia para tratar com ela sobre o seu desígnio abominável. Primeiro, este confidente transmite à princesa esta proposta do seu amo; em seguida, a proposta lhe agrada ou desagrada; por fim, ela consente e a aceita ou a rejeita. Deste modo, o mundo, o demônio e a carne, vendo uma alma unida ao Filho de Deus, como sua esposa, lhe armam tentações, nas quais primeiramente o pecado lhe é proposto, depois ele lhe agrada ou desagrada e, por fim, ela lhes dá o seu consentimento ou as rejeita. Eis aí os degraus que conduzem à iniquidade: a tentação, o deleite, o consentimento; e, embora estas três coisas não se distingam evidentemente em todos os pecados, todavia aparecem sensivelmente nos pecados maiores.

Uma tentação, embora durasse toda a nossa vida, não nos pode tornar desagradáveis à divina Majestade, se não nos agrada e não consentimos nela, porque na tentação nós não agimos, mas sofremos, e, como não nos deleitamos com ela, de nenhum modo incorremos em alguma culpa. Por longo tempo sofreu S. Paulo tentações da carne e tão longe de se tornar com isso desagradável a Deus que, pelo contrário, muito o glorificou. A bem-aventurada Ângela de Foligno foi também atormentada tão cruelmente que causa pena ouvir contar. Nem menores foram as tentações de S. Francisco e S. Bento, que um se lançou nos espinhos e o outro na neve, para combatê-las, e, entretanto, longe de fazê-lo perder a graça de Deus, só serviram para aumentar muito.

É preciso, pois, ter grande coragem nas tentações e nunca ser crer vencido, enquanto elas são desagradáveis, distinguindo bem entre sentir e o consentir. Podemos senti-las. Embora desagradem; mas não podemos consentir sem ter gosto nelas, porque o prazer é de ordinário um grau de consentimento. Ofereçam-nos, pois, os inimigos de nossa salvação tantos engodos e atrativos quantos quiserem; conservem-se sempre à porta do nosso coração, prontos para entrarem; façam-nos tantas propostas quantas quiserem; enquanto nos conservarmos na disposição de não nos deletarmos com estas coisas, é impossível que ofendamos a Deus; do mesmo modo que o esposo da princesa mencionada acima não poderia de modo algum exprobrar-lhe a proposta que lhe fizeram, se ela a abomina e detesta. Existe, contudo essa diferença entre a princesa e a alma: aquela que pode mandar embora o intermediário, se o quer, sem lhe dar ouvidos, e a alma muitas vezes não se pode livrar de sentir as tentações, conquanto esteja sempre em seu poder livrar de sentir as tentações, conquanto esteja sempre em seu poder não consentir. E esta é a razão por que uma tentação, por mais impertinente que seja, não nos pode causar nenhuma espécie de dano, enquanto nos desagrada.

Quanto ao deleite que pode seguir à tentação, é muito de notar que o homem tem em si como que duas partes, uma inferior e outra superior e que a inferior nem sempre se conforma à superior a atua muitas vezes separadamente desta. Disto recorre tão frequentemente que a parte se deleita numa tentação sem consentimento da parte superior e mesmo mau grado seu. Este é justamente o combate de São Paulo que descreve, dizendo que a carne deseja contra o espírito e que há uma só lei dos membros e outra e outra do espírito. Já viste, um grande braseiro de fogo coberto de cinzas? Vindo-se aí umas dez ou doze horas depois buscar fogo, só a muito custo é que se encontra alguma brasa restante; contudo, ainda há fogo aí e essa brasa pode servir para acender os outros carvões apagados. Eis aí como a caridade que é a tua vida espiritual, subsiste em ti, apesar de todas as tentações: a tentação, pois, deleitando a parte inferior, sobrecarrega e cobre, por assim dizer, uma pobre alma com tantas disposições que lhe reduz o amor a Deus a bem pouca coisa. É só lá no fundo do coração que ele ainda subsiste e mesmo aí, às vezes, é só a custo que se encontra.

Entretanto, ele aí está dum modo todo real, porque, apesar da perturbação geral da alma e do corpo, sempre se conserva a firme resolução de não consentir nem no pecado nem na tentação: o deleite que apraz ao homem exterior desagrada ao homem interior, e ainda que cerque, por assim dizer, a nossa vontade, o deleite não entra nela e isso nos faz julgar que é involuntário e que, enquanto permanece assim, não pode ser pecado.

São Francisco de Sales,
FILOTEIA, parte IV, cap IV

domingo, 29 de setembro de 2013

A HUMILDADE INTERIOR

São Francisco de Sales


Desejarás Filotéia, que te introduza ainda mais na prática da humildade; este desejo merece o meu aplauso e eu o quero satisfazer; pois, no que tenho dito até agora, há mais prudência que humildade.
Encontram-se pessoas que nunca querem prestar atenção às graças particulares que Deus lhe faz, temerosas que seu coração, enchendo-se duma vã complacência, não dê toda glória a Deus. É um falso temor e verdadeiro erro. Pois, desde que a consideração dos benefícios de Deus é um meio eficacíssimo de amá-lo, assim, diz o Doutor Angélico, quanto mais o conhecemos, tanto mais o amamos.
Nada é tão próprio para nos humilhar ante a misericórdia de Deus que a multidão de suas graças e a multidão dos nossos pecados ante a sua justiça. Consideremos, com muita atenção, o que Deus fez por nós e o que fizemos contra ele. Ao passo que examinemos os nossos pecados um por um, examinemos também as graças que Deus nos concedeu, e já não há que temer que este conhecimento nos ensoberbeça se refletimos que não temos nada de bom em nós. Porventura as bestas de carga não permanecem animais grosseiros e brutos, embora caminhem carregados de trastes preciosos e perfumados dum príncipe? Que temos nós de bom, que não tenhamos recebido? E, se o temos recebido, por que nos gloriamos disso?
A viva consideração das graças de Deus nos torna humildes, porque o conhecimento dum benefício produz naturalmente o seu reconhecimento; e, se esta consideração excitar em nós alguma complacência de vaidade, temos um remédio infalível, contra este mal, na lembrança de nossas ingratidões, imperfeições e misérias. Sim, se considerarmos o que fizemos, quando Deus não estava conosco, havemos de conhecer que o que fazemos, quando ele está conosco, não provém de nossa indústria e diligência.
Muitas vezes dizemos que nada somos, que somos a mesma miséria e, como diz S. Paulo o lixo do mundo; mas muito nos melindraríamos se nos compreendessem verbalmente e nos tratassem quais dizemos ser.
Pelo contrário, outras vezes fugimos para que nos venham atrás, escondemo-nos para que nos procurem, damos mostras de querer o último lugar, para que nos levem com muita manifestação de honra ao primeiro. O verdadeiro humilde não quer parecer que o é e nunca fala de si mesmo; a humildade, pois, não só procura esconder as outras virtudes, mais ainda mais a si mesma e, se a dissimulação, a mentira, o mau exemplo fossem coisas lícitas, ela cometeria atos de soberba e ambição, para esconder-se mesmo embaixo das capas do orgulho e subtrair-se mais seguramente ao conhecimento dos outros.
Nunca abaixemos os olhos, sem humilharmos o coração; nunca procuremos o último lugar, sem que de bom grado e sinceramente o queiramos tomar. Esta regra é tão geral que não se pode abrir exceção alguma!
O homem verdadeiramente humilde gostará mais que os outros digam dele que é um miserável, que nada é e nada vale, do que de o dizer por si mesmo; ao menos, se sabem que falam assim dele, sofre com paciência e, como está persuadido que é verdade o que dizem, facilmente se conforma com esses juízos, aliás igual aos seus.

Extraído da obra Filotéia, 


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ACERCA DO FALAR

São Francisco de Sales



Seja sincera tua linguagem, agradável, natural e fiel. Guarda-te de dobrez, artifícios e toda sorte de dissimulações, porque,embora não seja prudente dizer sempre a verdade, entretanto, é sempre ilícito faltar a verdade. Acostuma-se a nunca mentir, nem de propósito, nem por desculpa nem doutra forma qualquer, lembrando-te que Deus é o Deus da verdade.

E, se alguma mentira te escapar descuido e a podes reparar por uma explicação ou de algum outro modo, faze-o prontamente. Uma escusa verdadeira tem muito maior graça e eficácia, para justificar, que uma mentira meditada.

Conquanto, se possa às vezes disfarçar e encobrir a verdade por algum artifício de palavras, só o devemos fazer nas coisas importantes quando a glória e o serviço de Deus o exigem manifestamente; fora disso são estes artifícios muito perigosos, tanto assim que diz a Sagrada Escritura que o Espírito Santo não habita num espírito dissimulado e duplo.  

Nunca existiu sutileza maior e mais estimável que a simplicidade. A prudência mundana com todos os seus artifícios é o sinal dos filhos do século; os filhos de Deus andam por um caminho reto e tem o coração sem dobras. Quem caminha com simplicidade diz o sábio, caminha com confiança. A mentira, a dobrez, a dissimulação serão sempre tendências naturais de um espírito vil e fraco.

Santo Agostinho tinha dito no quarto livro de suas confissões que sua alma e a de seu amigo eram unidas numa só alma, que esta vida lhe era insuportável depois do seu falecimento, porque não queria viver assim só pela metade, mas que por esta mesma razão não queria morrer, com medo que seu amigo morresse completamente.

Mais tarde estas palavras lhe pareceram demasiadas afetadas e no seu livro das retratações ele censurou, chamando-as de inépcias.

Eis aí, Filotéia, que delicadeza desta alma santa e bela, quanta a afetação nas palavra!A fidelidade, sinceridade e a naturalidade da linguagem é certamente um lindo ornato da vida cristã. Disse e o farei, protestava Davi, guardarei os meus caminhos para não pecar com minha língua. Põe Senhor, guardas a minha boca e aos meus lábios uma porta que os feche.

Aconselhava o Rei São Luís nunca contradizer a ninguém senão em caso de pecado ou de algum grave dano, para evitar as contendas. E quando for necessário contradizer aos outros e opor a própria  opinião à sua, isto deve ser feito com muita doçura e jeito, para não parecer que se lhes quer fazer violência; tanto mais que com aspereza pouco ou nada se consegue. 

A regra de falar pouco, que os antigos sábios tanto recomendavam não se toma no sentido de dizer poucas palavras, mas no não dizer muitas inúteis, não quanto à quantidade, mas, quanto à qualidade. Dois extremos me parece que devem ser evitados cuidadosamente.

O primeiro consiste em assumir, nas conversas de que se participa um ar orgulhoso e austero, dum silencio afetado, manifestando desconfiança e desprezo.

O segundo consiste em falar demais, sem deixar ao interlocutor nem tempo nem ocasião de dizer algumas palavras, o que deixa transparecer um espírito presunçoso e leviano.

São Luís não tinha por bem falar-se numa reunião em segredo ou, como então se dizia, “em conselho”, particularmente a mesa, com receio de que os outros pensassem que se estava falando mal deles.  Sim - dizia ele - se a mesa ou numa reunião se tem alguma coisa boa ou interessante para dizer, diga-se alto e para todos; tratando-se, porém, duma coisa séria e importante não se fale sobre isso com ninguém.  

   Da Obra Filotea              


quarta-feira, 3 de julho de 2013

PEMSAMENTOS DE SÃO FRANCISCO DE SALES PARA O CORAÇÃO DEVOTO



1. A afabilidade, o amor e a humildade tem uma força maravilhosa para ganhar os corações dos homens e levá-los a abraçar as coisas desagradáveis à natureza humana.
2. A alma que não conhece suas misérias não pode chegar a ter verdadeira confiança em Deus.
3. A ansiedade que sentimos de ver se progredimos na perfeição não é agradável a Deus e não serve senão para satisfazer nosso amor próprio.
4. A desconfiança que vós tendes de vós mesmo é boa, porque é o fundamento da confiança em Deus.
5. A desigualdade dos acontecimentos não deve nunca levar-nos à desigualdade de espírito, pois que essa desigualdade não provém senão das nossas paixões, inclinações ou afeições imortificadas, as quais não deve ter poder sobre nós.
6. A humildade nos faz descobrir de nós mesmos, pois somos fracos e pobres; porém a generosidade nos faz confiar em Deus autor de todo bem, e por isto estas virtudes devem andar sempre unidas.
7. A humildade que inclina ao desalento, a desconfiança, a perturbação, é oposto à caridade.
8. A liberdade de espírito consiste na prontidão para fazer a vontade de Deus, seja esta qual for.
9. A misericórdia é um afeto que nos faz participar da paixão e dor daquele a quem amamos, atraindo ao nosso coração a miséria que ele sofre.
10. A paciência é tanto mais perfeita quanto menos mescla se veja de ansiedades e inquietudes.
11. A perfeição não consiste na ausência de tentações. Os santos, como nós, foram tentados, e alguns mais fortemente do que nós.
12. Amai a todos com amor de caridade; porém não tenhais amizade com quem não possa servir-vos em algo para adquirir a virtude.
13. Amar a Deus em meio aos consolos pode fazê-los os mais débeis e até pequenos; porém amá-lo quando nos chega a amargura é próprio das almas generosas e constantes.
14. Amar a vontade de Deus nas pequeninas contrariedades quotidianas é seguro indicio de uma pessoa desprendida de si mesma.
15. Antes perder tudo do que perder a confiança, o ânimo, a resolução de amar a Deus para sempre.
16. As grandes oportunidades de servir a Deus são raras, pequenas sempre existem.
17. As mortificações que nos vem de Deus ou dos homens, por permissão divina, são sempre mais preciosas do que aquelas que são filhas da nossa vontade.
18. Bom é mortificar a carne; porém vale muito mais purificar o coração de seus afetos desordenados.
19. Cada um de nós tem suas próprias opiniões e isso não se opõe a virtude. O que se opõe a virtude é o apego que temos as nossas opiniões.
20. Certas pequenas tentações são muito úteis, porque nos fazem entrar em nós mesmos; recordam-nos nosso nada e faz que recorramos a Deus com mais fervor.
21. Como se engana a pessoa que faz consistir a santidade em outras coisas e não em amar a Deus.
22. Confiar em Deus na suavidade e na paz das prosperidades, qualquer um pode fazê-lo; mas entregar-se a ele nas lutas e tempestades, é próprio de seus filhos.
23. Conhecerás teu tesouro por seu amor e seu amor por seus pensamentos.
24. Considerai vossos defeitos com mais do que indignação, com mais humildade que severidade e conservai o coração cheio de um amor brando, sossego eterno.
25. Desejar o martírio e ao mesmo tempo descuidar das obrigações do próprio estado é uma pura ilusão.
26. Desejo ardentemente gravar em vosso coração uma máxima muito saudável; é esta: “Não pedir nada, não recusar nada”.
27. Deus é tão digno do nosso amor quando nos consola, como quando nos faz sofrer.
28. Deus exige muito mais de nós a fidelidade nas pequenas ocasiões que nos põe em nossas mãos, que os ardentes desejos de fazer grandes coisas que não estão em nosso alcance.
29. Deus quer que a tua miséria seja o trono de sua misericórdia e a tua impotência a sede do teu poder.
30. Deveis destruir em vós tudo o que se oponha a perfeita união com Deus; sobretudo o amor próprio, a própria vontade, o desejo das honras e a satisfação dos sentidos.
31. É bom conhecer os defeitos na vida dos santos não só  para reconhecer a bondade de Deus que as perdoado, senão também para aprender a evitá-los.
Férias de Julho de 2013



terça-feira, 18 de junho de 2013

O CORAÇÃO SACERDOTAL DE CRISTO

Everson Vasconcelos
Diocese de Guarabira – PB


Caríssimos amigos, Deus nos ama de modo incondicional! Ao olharmos o plano salvífico que Deus tem para cada um de nós, vemos que desde o princípio, Deus enviou os profetas para que acreditássemos em Sua Palavra e buscássemos um caminho de conversão e de santidade. Sendo assim, Deus não cessa de nos comunicar sua graça, Ele nos ama e espera que nós também O amemos de modo livre, espontâneo e consciente. Contudo, ao longo da história qual tem sido a resposta do homem ao plano de Deus? A incredulidade e a tibieza tem sido a resposta mais egoísta do homem a Deus que tanto fez e faz por cada um de nós! Mesmo assim, Deus em sua infinita misericórdia e bondade não desiste de nos salvar, de nos fazer partícipes de Sua glória! Por isso, Deus mesmo veio ao mundo para nos resgatar de nossos pecados, de nossos erros e de nossas faltas.

Deus se faz presente na história da humanidade por meio da pessoa de Cristo, vítima sem par (cordeiro imolado que se faz refeição) para nossa salvação. Cristo é capaz de nos configurar a uma vida de santidade. Ele nos faz amigos de Deus para que sejamos solícitos a vontade e aos desígnios do Pai. É do Coração Sacerdotal de Cristo que emanam todas as graças e bênçãos para a vida dos homens. É por meio deste mesmo coração, que arde de amor por nós, que nos tornamos dóceis às inspirações do Espírito Santo. Já nos dizia São Cipriano: “O homem novo, nascido, e, por graça, restituído a seu Deus, diz em primeiro lugar, “Pai”, porque já começou a ser filho”. Deus é nosso Pai, porque pelo Batismo nos tornamos filhos de Deus e herdeiros do Reino. Em Cristo somos fortes, capazes trabalhar nossos erros e superar nossas limitações, porque a graça de Deus, encarnada no Coração Sacerdotal de Cristo, nos orienta e nos aponta um caminho de arrependimento e de contato íntimo com o Pai.

Tal como nos dizia Santa Faustina Kowalska em seu diário: “O coração de Cristo arde de amor e de misericórdia por cada um de nós”. Isto é, Deus nos ama por igual, com nossas virtudes e defeitos, com nossos acertos e erros, e de modo particular Ele nos ama e espera de nós uma resposta de amor! Por esse motivo, devemos sempre pedir a Deus, que pelos méritos do Coração Sacerdotal de Cristo Bom Pastor, que Ele nos ajude e nos fortaleça na fé, na esperança e na caridade para que possamos viver aquilo que Santo Agostinho nos disse (em seu livro das Confissões): “quia fecisti nos ad Te, Domine, et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te!” (porque, fizeste-nos Senhor para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti!). 

É, pois sobre o Coração Sacerdotal de Cristo Bom Pastor que nós devemos repousar e depositar Nele, todas as nossas esperanças e aspirações. Que a Virgem Maria nos ajude a sermos cada vez mais a imagem e semelhança de Cristo Bom Pastor, Ela que tanto soube fazer em tudo a vontade de Deus.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O SACRATÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS

São Joao Eudes


Em Cristo, nosso Salvador, adoramos três corações, que, pela estreita união que os liga entre si, fazem um só coração. O primeiro é o Coração divino - Amor incriado - que é o próprio Deus.

É o Amor que desde toda a eternidade O abrasa no seio adorável do Pai, do qual, sendo um com o amor do Pai, procede o Espírito Santo. O segundo é o seu coração espiritual, isto é, a parte superior da sua alma santíssima, em que o Espírito Santo vive e reina duma maneira inefável, e que encerra os tesouros infinitos da ciência e da sabedoria de Deus; é também a sua vontade humana, faculdade espiritual do amor, que Ele imolou a Vontade do Pai na realização da sua obra redentora. O terceiro, é o coração de carne hipostaticamente unido a Pessoa do Verbo, Coração Santíssimo formado pelo Espírito Santo do sangue virginal de Maria Mae do Amor, que no alto da cruz foi transpassado pelo golpe da lança.

Este amabilíssimo Coração de Jesus é uma fornalha de amor. Ama o Seu divino Pai com um amor eterno, imenso, infinito. Ama Sua Mae com um amor sem medida e sem limites, como o provam manifestamente as graças inconcebíveis com que A cumulou. Ama a Igreja triunfante, padecente e militante, como o mostram os sacramentos - em especial a Eucaristia, síntese de todas as maravilhas da misericórdia de Deus - fontes inesgotáveis de graça e santidade, que brotam do oceano imenso do Coração do nosso Salvador. Ama-nos, enfim, a todos e cada um de nós como Seu Pai O ama a Ele. Por isso, tudo fez e tudo sofreu para libertar-nos do abismo de males em que o pecado nos submergira, e para fazer de nós filhos de Deus, membros de Cristo, herdeiros do Pai, co-erdeiros do Filho, possuidores do mesmo Reino que o Pai deu a Seu F ilho Jesus Cristo.

Diante deste Coração Santíssimo o nosso dever é adorá-Lo, louvá-Lo, bendize-Lo, glorificá-Lo, agradecer-Lhe, pedir-Lhe perdão de tudo o que sofreu pelos nossos pecados, oferecer-Lhe em reparação todas as alegrias que Lhe dão os que O amam, e todos os nossos sofrimentos aceites por seu amor, enfim amá-Lo ardentemente. Devemos também aproveitar-nos deste Coração porque Ele é nosso. O Eterno Pai, o Espirito Santo, Maria e o próprio Jesus no-lo deram para ser nosso refúgio em todas as necessidades, nosso oráculo nas dúvidas e dificuldades, e para ser o nosso tesouro. Deram-no-Io, enfim, não só para ser modelo e regra da nossa vida, mas para ser Ele mesmo o nosso próprio coração, a fim de por tão grande Coração podermos dar a Deus e ao próximo tudo quanto Ihes devemos.